sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Liberdade à cubana

Muitas coisas interessantes aconteceram no Pan do Rio de Janeiro. Desde as emblemáticas vaias ao presidente da República, passando pelos acessos de patriotismo desvairado de alguns comentaristas esportivos, até chegar à beleza e plasticidade de alguns esportes, como a ginástica rítmica, por exemplo.

Outros esportes, para mim, poderiam nem existir. O softbol (se não fosse pelas belas atletas, eu nem saberia o que era); aquela outra modalidade que o rapaz fica pulando numa cama elástica, igualzinho eu fazia na cama de meus pais quando criança; o boliche; a peteca inglesa, e por aí vai.

O Pan também tornou patente o quanto somos (ainda) medíocres na formação de atletas. Excetuando-se algumas modalidades, como o voleibol, ainda temos muito a aprender, principalmente com os Estados Unidos.

No entanto, talvez o fato inusitado (e, de certa forma, imaginado e previsto) foi a fuga de alguns atletas cubanos durante o período dos jogos. Atletas da equipe de handebol e de boxe abandonaram a delegação cubana e meteram o pé na estrada. Teve um que veio de táxi para São Paulo. Outro, imediatamente, embarcou para a Alemanha. Todos muito aliviados.

E nós temos que ouvir o Exmo. Fidel Castro dizer que o Brasil está se tornando outro “Estados Unidos” ao “acobertar” os dissidentes. Caduquice tem limites, Sr. Castro!

Os atletas fugiram única e exclusivamente em busca de algo que eles consideraram que lhes faltava em Cuba: liberdade. A liberdade de poder fazer as escolhas profissionais, de ir e vir dentro e fora da Ilha, de jogar em outros países sem ser visto como “traidor do regime”, de enriquecer e ter fama.

Só essa busca pela liberdade é que pode justificar a deserção do principal boxeador cubano, Guillermo Rigondeaux (foto), que gozava de uma série de regalias e tinha uma pequena fortuna (sem falar do mar caribenho), mas escolher largar tudo e fugir, durante o Pan, para a fria Alemanha.

A lógica é simples: antes o frio e o desafio – ao sabor da liberdade – do que regalias, sol, mulheres e seguranças, com uma “liberdade à cubana”. Se for assim, à cubana, para mim, só o filé.

7 comentários:

Mariana disse...

Acho que as coisas são um pouco mais complexas... Aliás, muito mais complexas. Tão complexas quanro a própria odéia do que seja a liberdade.

Entendo que esse é um blog para pequenos comentários, e não para grandes tratados.

Mas se por um lado o assunto não pode ser esgotado, por outro, seria interessante uma análise menos unilateral. Ou mais problematizada...

Por exemplo, lembrar que Cuba, com um PIB muitíssimo menor que o dos EUA, e com uma população também quase 30 vezes menor, conseguiu mais da metade das medalhas do tio Sam. O Brasil, muito mais rico e mais populoso que Cuba, ficou pela primeira vez perto da pequena ilha no quadro de medalhas.

Me pergunto quais são as prioridades de cada país, de cada governo.

O Brasil tem que aprender com os EUA, sim, e também com Cuba, por que não?

Anderson disse...

Oi Mari!
Concordo com você em relação à complexidade da idéia de liberdade. Como você bem notou, eu não iria discorrer longamente sobre o conceito de liberdade, posso fazê-lo em outro texto. O meu raciocínio foi simples: partir da argumentação dos próprios cubanos. Eles, quando perguntados, disseram que 'fugiram' pois não têm liberdade na Ilha. Ponto. Não sou dos fãs de carteirinha da política norte-americana, mas é bom lembrar também que em 95% das modalidades os estadunidenses mandaram as suas 2as. 3as. ou 4as. equipes. Caso contrário, nós e os cubanos não teríamos nem visto os EUA no quadro de medalhas.
Eu reforço a sua "auto-pergunta": quais são as prioridades de cada país? E emendo outra: o que poderíamos aprender com Cuba? (Isso é uma questão de fato, e não uma pergunta retórica ou provocação!). Valeu pela participação.

Mariana disse...

Oi Anderson!

Eu não discordo do que você escreveu. Concordo que os cubanos que fugiram o fizeram em busca de liberdade, se eles mesmos o disseram. Em busca do que eles (quem melhor, afinal?) consideram liberdade, evidentemente.

Só acho que além de perguntar para os cubanos que fugiram o motivo de sua ação, a televisão ou quem quer que seja poderia perguntar para os outros centenas que voltaram para Cuba: por que voltaram? É lógico que tem uma pressão enorme para voltar, é sua obrigação, mas não creio se seja o único motivo para todos eles. Com certeza mais do que o número dos que fugiram têm outros motivos para voltar - os quais eu gostaria muito de ouvir.

Também não sou fã de carteirinha das políticas cubanas. Mas respondendo à sua pergunta, sobre o que teríamos a aprender com Cuba, lembro que nesse país, as crianças, ao invés de estarem na rua, estão nas escolas, estudando e praticando esportes. Não tenho dados numéricos sobre isso (mas sei que eles existem), me baseio na experiência que tive quando visitei o país num congresso. Isso poderia ser uma prioridade (real) no nosso país. As melhoras não viriam só na nossa posição no quadro de medalhas no Pan...

Enfim, acho que o primeiro passo para ser livre é conseguir enxergar que se está preso. Em Cuba, eles sabem disso. Nos EUA, não.

Valeu pela resposta, e parabéns para você e para o Zé pelo blog.

Abraços!

ps- quanto aos EUA (e mesmo o Canadá, que também não mandou suas delegações principais), você está coberto de razão, a comparação no quadro de medalhas não vale. Mas não invalida a comparação com os outros países...

Mariana disse...

ps2 - não sei se meu cometário ficou muito pró-Cuba. Mas esse não era o sentido. O que eu queria é chamar atençaõ para outro lado da questão, só isso.

Dekasseguindo disse...

"não fosse pelas belas atletas" - comentário machista!!!!

Dekasseguindo disse...

"não fosse pelas belas atletas" - comentário machista!!!!

Anderson disse...

Marcelo: não tem nada de machista no comentário. Somente uma constatação: eu só tomei conhecimento desse esporte no Pan depois que eu vi um ensaio "picante" feito pelas atletas de softbol. Se não tivesse ensaio, eu nem iria saber que essa modalidade esportiva disputava o Pan, como tantas outras. Apenas uma apreciação. Se fosse o uniforme ou a bola que chamasse a atenção, eu teria colocado! Valeu!