Estive no Rio de Janeiro em dezembro último. Foram 5 dias de descanso antes da maratona de trabalho que enfrentaria no final do ano. Gosto da cidade maravilhosa, apesar de conhecê-la pouco. Andei pelo “centrão” por horas; fui até às portas do tão falado Morro dos Macacos; batuquei na Portela e conheci um pouco mais a zona norte carioca. Tudo ótimo!
Fazia um calor infernal, com 33 graus às 23h. Fiquei hospedado na casa de um amigo, a 500 metros do Estádio do Maracanã, na Tijuca, o que aumentava ainda mais a temperatura na semana que antecedia os jogos finais do Campeonato Brasileiro.
Naqueles dias, em São Paulo, a chuva destruía uma parte da cidade. O noticiário carioca mostrava os desabamentos, enchentes e lágrimas. Provavelmente, por seu lado, os telejornais paulistas tratavam da troca de tiros nos morros cariocas por conta da tal UPP (Unidade de Polícia Pacificadora).
Enquanto almoçava, na Vila Isabel, ouvi um carioca, com os “erres” e “esses” sublinhados, dizer algo como: “é só chover lá que os paulixxxtas ficam em baixo d’água”. Gargalhadas. Na TV, o jornal local mostrava os problemas em Carapicuíba e na zona leste de SP.
Lembro-me de ter pensado: “é engraçado, lá em SP os caras devem estar metendo o pau no RJ por conta dos morros; aqui, eles noticiam e ironizam a incapacidade crônica dos paulixxxtas em lidar com as chuvas”.
Em se tratando de certa rivalidade Rio-São Paulo, a grama do vizinho é sempre menos verde do que a nossa.
Chove há quase 24 horas no Rio. São, até agora, 95 mortos no estado (com cerca de 40 na capital). Em São Paulo, choveu torrencialmente durante 47 dias (com poucas horas diárias de estiagem). Por aqui, morreram 78 pessoas nesse período. O Rio enfrenta a maior chuva em 44 anos! Em SP, caiu água como não se via há 70 anos!
Fiquei com o ouvido colado ao rádio por boa parte do dia de hoje. Na Globo News, vejo agora o prefeito Eduardo Paes falando. Antes, assisti às entrevistas do governador Sérgio Cabral e do presidente Lula.
E estou impressionado com uma diferença fundamental: há - nas entrevistas, análises técnicas e comentários - um ar de colaboração, de condolência, de compreensão com a situação caótica dos cariocas e fluminenses, incluindo-se aí os próprios governantes.
Afinal de contas, trata-se de algo extraordinário: a maior chuva em quatro décadas!
Em SP, em situação semelhante ou pior, o clima era bem menos amistoso e menos compreensivo. As críticas eram mais ferozes – além de politizadas. À época, parecia que a chuva em SP era apenas uma brisa que destruía a cidade. Hoje, parece que o RJ passou por um tsunami e que, por sua excepcionalidade, merece compreensão.
Vai entender... Pau que bate em Chico não bate em Francisco!
Se é que posso assim dizer, prefiro, em casos excepcionais, a suposta “não-politização-compreensiva” carioca à “crítica-politizada” paulistana! A sensação de solidariedade ajuda a sair do buraco.