sábado, 15 de março de 2008

Porque Jorge é Amado

A Rede Sesc inicia na próxima semana uma série de homenagens ao escritor baiano Jorge Amado. As comemorações fazem parte do relançamento de sua obra, realizada pela Cia. das Letras, e que seguirá até agosto de 2012, quando Amado completaria 100 anos.

Jorge Amado faleceu em agosto de 2001 e ainda é um dos mais populares escritores do Brasil, sendo também uma referência do nosso país no exterior.

Retratou com muita intimidade os costumes da Bahia, tornando imortais alguns personagens que fazem parte do imaginário brasileiro, como as belas e sensuais Gabriela e Dona Flôr, o malandro e conquistador Vadinho e o marinheiro Quincas.

Pra quem quiser conferir de perto essas homenagens, o Conta-Gotas deixa algumas dicas de eventos que acontecerão a partir do dia 21.

O Cinesesc da Rua Augusta exibirá o Ciclo Jorge Amado de cinema, com os filmes Dona Flor e seus Dois Maridos, Tieta, Forjamado no Cinema e Jorge Amado. De 21 a 25/03. R$ 6,00

O trio Nana, Dori e Danilo Caymmi interpretam canções nascidas da parceria do pai com Jorge Amado, e outras inspiradas na obra do baiano. Sesc Pinheiros, quinta e sexta (27 e 28) às 21h. R$ 30,00

O evento Porque Jorge é Amado, que seguramente será o mais concorrido, traz Chico Buarque, Caetano Veloso e outros convidados para ler trechos da obra do escritor baiano. A apresentação acontece no dia 25 (terça) às 21h no Sesc Pinheiros. A entrada é franca (apenas 500) e os ingressos serão distribuídos somente no dia 19 (quarta) a partir das 14h, em qualquer unidade do Sesc, limitado a 2 convites por pessoa. (Nossos estagiários serão mobilizados e se necessário enfrentarão filas quilométricas para que o Conta-Gotas possa cobrir o evento com exclusividade)

sexta-feira, 14 de março de 2008

Ah, o trânsito!

Ontem, perdi pelo menos, umas três horas no trânsito de São Paulo. Radial, Marginal, 23 de maio, Avenida do Estado... é impossível! E não tem pra onde correr. Normalmente já é difícil, com chuva então, nem se fala.

Nos últimos dias, invariavelmente as manchetes dos jornais estamparam: trânsito bate novo recorde em São Paulo. Parece até competição! Ontem foram 221km, o maior em 9 anos. E o pior é que a gente acaba acostumando (ou se conformando) com essa situação. O rodízio já não adianta muita coisa, o tão esperado Rodo"tucano" Anel tá parecendo o Estádio do Corinthians, só fica na promessa.

E é engraçado reparar no comportamento individualista das pessoas: motoristas, pedestres, motoqueiros. Cada um por si, e o próximo que se exploda!

Com as facilidades para financiar veículos e o transporte público cada vez mais deficitário, as expectativas de melhoria são quase nulas.

O jeito é escutar música, o noticiário (que quase sempre não é muito agradável) e ir tocando a vida com paciência pra não ficar maluco.

Bom fim de semana, e espero, sem trânsito!

quinta-feira, 13 de março de 2008

Elio Gaspari, direitista?

Segue o artigo de ontem do Elio Gaspari, na Folha de São Paulo. Olha, tem muita gente se contorcendo com o que escreveu o colunista. Já me perguntaram até se ele “bandeou para a direita”. Eita restrição mental braba!

Em 2008 remunera-se o terrorista de 1968

DAQUI A OITO dias completam-se 40 anos de um episódio pouco lembrado e injustamente inconcluso. À primeira hora de 20 de março de 1968, o jovem Orlando Lovecchio Filho, de 22 anos, deixou seu carro numa garagem da avenida Paulista e tomou o caminho de casa. Uma explosão arrebentou-lhe a perna esquerda. Pegara a sobra de um atentado contra o consulado americano, praticado por terroristas da Vanguarda Popular Revolucionária. (Nem todos os militantes da VPR podem ser chamados de terroristas, mas quem punha bomba em lugar público, terrorista era.)

Lovecchio teve a perna amputada abaixo do joelho e a carreira de piloto comercial destruída. O atentado foi conduzido por Diógenes Carvalho Oliveira e pelos arquitetos Sérgio Ferro e Rodrigo Lefèvre, além de Dulce Maia e uma pessoa que não foi identificada.

A bomba do consulado americano explodiu oito dias antes do assassinato de Edson Luís de Lima Souto no restaurante do Calabouço, no Rio de Janeiro, e nove meses antes da imposição ao país do Ato Institucional nº 5. Essas referências cronológicas desamparam a teoria segundo a qual o AI-5 provocou o surgimento da esquerda armada. Até onde é possível fazer afirmações desse tipo, pode-se dizer que sem o AI-5 certamente continuaria a haver terrorismo e sem terrorismo certamente teria havido o AI-5.

O caso de Lovecchio tem outra dimensão. Passados 40 anos, ele recebe da Viúva uma pensão especial de R$ 571 mensais. Nada a ver com o Bolsa Ditadura. Para não estimular o gênero coitadinho, é bom registrar que ele reorganizou sua vida, caminha com uma prótese, é corretor e imóveis e mora em Santos com a mãe e um filho.

A vítima da bomba não teve direito ao Bolsa Ditadura, mas o bombista Diógenes teve. No dia 24 de janeiro passado, o governo concedeu-lhe uma aposentadoria de R$ 1.627 mensais, reconhecendo ainda uma dívida de R$ 400 mil de pagamentos atrasados.

Em 1968, com mestrado cubano em explosivos, Diógenes atacou dois quartéis, participou de quatro assaltos, três atentados a bomba e uma execução. Em menos de um ano, esteve na cena de três mortes, entre as quais a do capitão americano Charles Chandler, abatido quando saía de casa. Tudo isso antes do AI-5.Diógenes foi preso em março de 1969 e um ano depois foi trocado pelo cônsul japonês, seqüestrado em São Paulo. Durante o tempo em que esteve preso, ele foi torturado pelos militares que comandavam a repressão política. Por isso foi uma vítima da ditadura, com direito a ser indenizado pelo que sofreu. Daí a atribuir suas malfeitorias a uma luta pela democracia iria enorme distância. O que ele queria era outra ditadura. Andou por Cuba, Chile, China e Coréia do Norte. Voltou ao Brasil com a anistia e tornou-se o "Diógenes do PT". Apanhado num contubérnio do grão-petismo gaúcho com o jogo do bicho, deixou o partido em 2002.

Lovecchio, que ficou sem a perna, recebe um terço do que é pago ao cidadão que organizou a explosão que o mutilou. (Um projeto que re- vê o valor de sua pensão, de iniciativa da ex-deputada petista Mariângela Duarte, está adormecido na Câmara.)

Em 1968, antes do AI-5, morreram sete pessoas pela mão do terrorismo de esquerda. Há algo de errado na aritmética das indenizações e na álgebra que faz de Diógenes uma vítima e de Lovecchio um estorvo. Afinal, os terroristas também sonham.

A caça aos cavalos e outros pitacos

É isso mesmo! Nada de coelhos ou macaquinhos serelepes. A onda agora é caçar os cavalos paraguaios do Campeonato Paulista. Um pouquinho do esporte bretão, para relaxar!

Ontem, “pela primeira vez na história deste país”, três clubes grandes de São Paulo se colocaram no famoso G-4, sendo que um deles, o Palmeiras, entrou pela primeira vez.

Mais dias, menos dias, isso iria acontecer. Embora não existam evidências de que os três se classificarão. Se fosse para apostar, eu casaria “doi real” que os 4 primeiros colocados que aí estão continuarão até o final, não nessa ordem, é claro!

São Paulo e o jeito de jogar a Libertadores

Aos secadores de plantão, um recado: quando vocês virem um timeco desses do Peru, Chile ou Venezuela vir ao Morumbi jogar contra o São Paulo, não adianta ficar torcendo e estourar fogos quando esse time fizer o primeiro gol.

O SPFC não tem jogado bem, e isso é indiscutível. De uma hora para outra, o esquema tático tricolor se transformou nos cruzamentos de Zé Luís para Adriano e, quando este não pega ou está suspenso, para Borges. Tá, tudo bem!

No entanto, o Tricolor sabe jogar Libertadores. A torcida ainda peca, mas o clube (sim, porque independe dos jogadores) tem uma segurança danada. Segurança conferida por 5 disputas seguidas, coroadas com um título de campeão e um vice.

De algum modo, o SPFC da semana passada lembrou o Boca Juniors: jogava mal, perdia, mas teve a calma e a malandragem para virar o jogo. Fácil, fácil! Os times que vêm ao Morumbi, exceção feita ao próprio Boca e ao Chivas, tremem para o SPFC. Isso se chama respeito.

Domingo é dia de clássico e, oxalá, de Morumbi lotado, estrumbando! Minha aposta? Dá Palmeiras, mais organizado taticamente e com o Mago de volta!

Atualização das 13h10: o clássico de domingo será jogado em Ribeirão Preto!

quarta-feira, 12 de março de 2008

De novo: os logotipos infelizes!

Mais uma da nossa “inventiva” série! Ai, ai, o que esses “publicitários” não criam!

À Italiana


Clínica dentária dúbia!


Uma farmácia! Tem remedinho azul aí!?

terça-feira, 11 de março de 2008

Reflexões sobre uma bossa cinqüentona

Nos anos de 1950, a partir da Zona Sul do Rio, longe – geográfica mas não ritmicamente – da Praça Onze, do Estácio e dos morros, o cantor e violonista João Gilberto, alterando as harmonias com a introdução de acordes não convencionais, como antes já o faziam músicos como Garoto, Oscar Bellandi, Vadico, Valzinho etc; e radicalizando a sincopação do samba, com uma divisão única; João Gilberto começava a se tornar o papa de uma nova religião.


"João – e quem conta é o músico e cineasta Sérgio Ricardo – pegava o instrumento e mostrava sambas tradicionais com um acompanhamento diferente, intrigante, casando de uma forma nova com o solo de sua voz. Surpreendentemente diverso de tudo o que eu já ouvira em matéria de samba (...) seu violão era seguríssimo, preciso, simples, sem floreios ou escalas. Só os acordes batidos no momento certo, na beleza do inesperado, num balanço inimitável”.


Curioso é que toda essa revolução joão-gilbertiana era feita basicamente em cima de sambas absolutamente tradicionais, como, entre outros, De Conversa em Conversa (Ari Barroso), Isaura (Herivelto Martins e Roberto Roberti), Falsa Baiana (Geraldo Pereira) e O Pato (Jaime Silva e Neuza Teixeira), escolhidos por ele, em geral, por serem balançados, sincopados, permitindo o exercício de toda a sua criatividade rítmica. Ao redor e a partir de João Gilberto reuniu-se um grupo de músicos, quase todos de classe média alta e formação universitária, com o intuito de, partindo das experiências formais de João Gilberto tentar “simplificar” o samba tradicional e adequá-lo a certos padrões internacionalizantes.


Dentro dessa idéia, de fazer um samba moderno, sem pandeiro nem cavaquinho, Tom Jobim,músico de formação erudita, ex-estudante de arquitetura e morador em Ipanema desde a infância, teorizava, segundo um texto de Gene Lees, publicado na Hifi/Stereo Review, em 1963: “O autêntico samba negro é muito primitivo. Nele usam-se, às vezes, dez instrumentos de percussão e quatro ou cinco cantores. Ele é cantado alto e a música, maravilhosa, é sempre muito animada. Já a Bossa Nova é calma e contida. Ela conta uma história, tentando ser simples, séria e lírica ... João (Gilberto) e eu achamos que a música brasileira até agora tem sido uma tempestade no mar e, assim, queremos torná-la tranqüila para que ela possa entrar nos estúdios de gravação. Pode-se dizer que a bossa-nova é o samba limpo, depurado. Mas nós não queremos perder o que há de importante nele. E aí o problema é saber compor sem perder o balanço."


Esse afã de simplificar e suavizar o negro samba gerou identificação com uma proposta de lazer e descompromisso, com letras sorridentes, douradas pelo sol e pelo sal das praias da Zona Sul. E, contraditoriamente, deu também origem ao personalíssimo som então Jorge Ben, hoje Benjor, provável mistura de samba com rhythim & blues.


Mas o alegre barquinho da bossa nova era atropelado pelo golpe militar de 1964 e pela nova ordem político-econômica consolidada a partir de dezembro de 1968. Nesse interregno, então, os seguidores de João Gilberto se dividiam, como explica este trecho de Flávio Eduardo de Macedo Soares, publicado na Revista Civilização Brasileira, em maio de 1966: “A contradição inicial dentro da bossa nova assumiu em pouco tempo o aspecto de uma verdadeira diáspora. Em termos gerais, pode-se dizer que uma facção optou por manter a influência do jazz norte-americano, um tom suave, intimista (personificado na voz fanhosa de João Gilberto) e nas letras de temas amenos, sem maior compromisso com a realidade brasileira ou qualquer espécie de participação social. A outra, constituída por gente como os compositores Baden Powell, Sérgio Ricardo e Carlos Lyra e os letristas Vinícius de Moraes e Nelson Lins e Barros, uniu-se ao movimento geral da cultura brasileira no sentido de uma base popular-folclórica nas músicas, e uma temática de realismo e participação social nas letras”.


Esse rompimento com a estética do Barquinho que já se delineara em sambas como Zelão (Sérgio Ricardo, 1961), O Morro e Feio Não é Bonito (Carlos Lyra e Gianfrancesco Guarnieri, 1963) e O Morro Não Tem Vez (Tom e Vinícius, 1963), entre outros, vai estabelecer ou reestabelecer um elo importante entre o samba da classe média, a bossa nova, e o samba das camadas populares, “do morro”. É através desse elo que Cartola, Elton Medeiros, Nelson Cavaquinho e Zé Kéti, entre outros compositores que, embora desfrutando de grande prestígio no mundo do samba, já se tinham como definitivamente alijados do mercado musical, puderam enfim – a afirmação é do já citado Macedo Soares – dialogar com um público, jovem e universitário, que até então só tinha acesso à música composta pelos artistas de sua classe social.


No mesmo contexto do ressurgimento de Cartola e Nelson Cavaquinho, o samba vê surgir o talento de Paulinho da Viola. E é também em meados da década de 60 que emerge, no cenário artístico, como um sucessor de Noel Rosa ou de Ismael Silva, o pós-bossanovista Chico Buarque, autor de sambas também antológicos.


Entretanto, 50 anos depois do Chega de Saudade, é importante que se questione o seguinte: quando a bossa nova (estilo de compor e interpretar e não gênero musical) resolveu simplificar a complexa polirritmia do samba e restringir sua percussão ao estritamente necessário, não estaria embutido nesse gesto tido apenas como estético, uma intenção desafricanizadora? E essa intenção não se originaria no preconceito, até hoje persistente, segundo o qual o samba cheira a senzala, a coisa velha e incompatível com a modernidade?


(Texto extraído e adaptado do livro Sambeabá e do Blog Meu Lote do sambista, compositor e escritor Nei Lopes)

segunda-feira, 10 de março de 2008

O mundo em 2050

Na coluna "Toda Mídia" de Nelson de Sá (Folha, 10/03) há a informação de um estudo da consultoria PriceWaterhouse e repercutida pelos indianos sobre a geopolítica em 2050.

Em síntese o estudo afirma o seguinte:

- a China será uma economia maior que a dos EUA;

- a Índia terá uma economia equivalente a 90% da dos EUA;

- o Brasil será a 4a economia do mundo, ultrapassando o Japão.

Portanto, o G8 e tantas resistências às alterações na ONU podem ser mais do que simples apego do grupo dos ricos de hoje: podem significar a chance de conservação de algum poder por parte dos europeus.

A pergunta que fica, no entanto, não será respondida agora: o mundo será outro em suas práticas políticas com o deslocamento das relações de poder? Quem viver, verá.

domingo, 9 de março de 2008

A vitória de Zapatero



Os significados da vitória eleitoral do PSOE de Zapatero têm repercussão bem mais ampla do que a simples continuidade eleitoral. Em primeiro lugar porque os conservadores do PP, que numa trapalhada histórica por causa dos atentados de Março de 2004 conduziram o candidato socialista ao poder, continuam sem discurso sólido ou mesmo uma proposta clara para o eleitorado espanhol.

Em segundo pois Zapatero se firma, mesmo sem um grande carisma, como uma liderança dentro da esquerda e com defesas políticas mais precisas do que as do antigo líder Felipe Gonzáles. Zapatero não titubeou diante da retirada de tropas espanholas do Iraque, nem na defesa de políticas como a união civil de homossexuais. Esta última medida, por exemplo, fez com que a cúpula da Igreja católica fosse uma das mais contundentes críticas do governo socialista. Num país em que mais de 90% da população se declara católica não é pouca coisa.

Porém, o governo de Zapatero terá pela frente a continuidade do enfrentamento com o ETA, a diminuição do crescimento econômico e aumento do desemprego, além dos riscos de uma crise econômica mundial que abalará os conglomerados espanhóis e, por extensão, a América Latina.

Para os brasileiros, que descobriram há pouco a questão dos imigrantes, a política não deve se alterar. Zapatero não irá relaxar num ponto sensível para os grupos conservadores.

PêEsse: Certa vez assisti a um filme que narrava as agruras de um anarquista espanhol. Para ele nada pior do que ser espanhol: já nascia católico, pois fora batizado, pertencia ao exército, porque era obrigado a cumprir o serviço militar na era do generalíssimo Franco e, ainda por cima, estava apaixonado por uma bela chica e queria casar-se com ela.