domingo, 28 de fevereiro de 2010

"O importante é que nossa emoção sobreviva"

Num instante, mudança de planos. Já são quase 8 e o show começa as 9, saio acelerado para o SESC Pompéia, no caminho ansiedade e incerteza: “Será que ainda tem ingresso?”. É dia de show do poeta Paulo César Pinheiro, comemoração dos seus 60 anos de vida. Oportunidade ímpar de vê-lo em São Paulo.


Subo num passo rápido a Francisco Matarazzo e de longe avisto na porta do Sesc um aviso de ingressos esgotados, penso: “Que merda, perdi”. Chegando mais perto, alívio, os esgotados eram do outro show da noite, Pedro Luís e a Parede.

Já são quase nove e na fila os minutos parecem uma eternidade, finalmente chega a minha vez, restam poucos lugares, a atendente me dá a opção da galeria do teatro: “não tem assento marcado, mas entrando antes você pega um bom lugar”. Aceitei a opção e não podia ter sido melhor, fiquei acima do palco e de frente para o mestre.

Soa a primeira campainha, o público continua chegando. A segunda... expectativa! A terceira, e finalmente casa cheia.

A luz vai diminuindo aos poucos. O poeta entra sozinho no palco, a platéia se levanta e o saúda com muitas palmas. Com um sorriso tímido, terno e de agradecimento, abre os braços retribuindo o carinho.

Se acomoda no centro do palco e com sua voz rouca e inconfundível faz um breve relato dos 60 anos de vida: 46 anos de carreira, quase duas mil composições, mais de mil gravadas; inúmeros textos para jornais e revistas; produções de discos e peças de teatro; dez discos lançados; dez livros de poesia, dos quais seis ainda na gaveta e um romance, recém- lançado. “Está a venda aí fora, no final vou autografar”, promete.

O primeiro músico a ser chamado é Maurício Carrilo, também produtor do show, no violão 7 cordas acompanha Pinheiro em Viagem, primeira música feita pelo compositor aos 14 anos de idade.

Na sequência ele convida os percussionistas Marcos Tadeu e Paulino Dias e no cavaquinho sua esposa Luciana Rabello. Causa alvoroço na platéia ao entoar Lapinha, “Quando eu morrer me enterre na Lapinha... calça culote, paletó, almofadinha”.

Aos poucos, como ele mesmo brinca, o palco se transforma em sua sala de estar. Para completar o time de músicos, sobem ao palco seu filho Julião Rabello Pinheiro, no violão 6 cordas, sua filha (visivelmente o xodó do pai) Ana Rabello Pinheiro, e tal qual a mãe, também no cavaquinho. E ainda, sua cunhada Amélia Rabello, de belíssima voz. (Definitivamente, essa família Rabello não sabe brincar, é muito talento junto!)

Numa atmosfera mágica, canções, poemas e histórias são deliciosamente entregues à platéia. Acho que nunca me arrepiei tanto!

O poeta mostra um certo desconforto, com seguidos pigarros. “Em outro tempo, tinha alguma coisinha pra esquentar a garganta, agora já não posso tanto”, diz, cercado por 3 copos de água. Prontamente, Carrilo se levanta e em poucos minutos aparece com 2 copos de whyskie, um ele divide com os percussionistas e o outro serve a Paulo. Pigarro resolvido, apesar do olhar de reprovação da esposa.

Esposa, filho e filha (tímidos, porém afinadíssimos) interpretam canções inéditas feitas em parceria com o poeta. Ele assiste a tudo encantado e com o orgulho transbordando em seus gestos. “Aprenderam direitinho, não acham”, “Se fizer pagode eu mato de joelho no pé de milho”, brinca ao final das apresentações. Sua esposa responde, “Não existe a menor possibidade disso acontecer”. Risos e aplausos!!

O espetáculo vai chegando ao fim e em Canto das Três Raças, fica impossível não se emocionar.

Alguns minutos de aplausos, o poeta volta para o bis com a linda E lá se vão meus anéis, homenageando Eduardo Gudin, parceiro na canção e presente na platéia.

O show acaba, deixando um gosto de quero mais. É impressionante o impacto que esses momentos causam na emoção.

Ainda fico para tentar um autógrafo no livro. Alguns minutos se passam e o homem dos botequins e dos bares reaparece, cumprindo a promessa do começo do show.

Na sua simplicidade e cordialidade senta para atender os pedidos. Sou o quinto da fila, minha voz falha e preciso repetir meu nome, após o autógrafo e um aperto firme de mão, a única coisa que consigo dizer é um “obrigado Paulo”.


Volto pra casa inebriado, cantarolando. Feliz como uma criança!!!

Um comentário:

paulo disse...

muito bom texto deu até vontade de estar lá.