Na seção de filmes da TV a cabo na Folha de hoje há o seguinte relato de Inácio Araújo.
"A Menina Santa" vai onde o cinema brasileiro teme ir
"A Menina Santa" (Telecine Cult, 0h05) é, de certa maneira, a súmula da superioridade do cinema argentino sobre o nosso.Quem poderia pensar num filme de tantas ocultações, em que um grande médico gosta de molestar meninas, em que a santinha molestada é bem uma cúmplice de tudo isso. Não, aqui a primeira idéia seria mandar prender o diretor, enquanto o Ministério da Justiça acionaria seus sabujos para colocar empecilhos à possibilidade de ver o filme. Etc.Não é culpa de ninguém. É cultural. Afinal, eles peitaram uma ditadura cem vezes pior do que a nossa e mandaram os torturadores para a cadeia. Nós fizemos uma bela pizza disso tudo. Eles têm uma livraria por esquina. Nós transformamos as nossas em boutiques que sobrevivem de vender ridicularias de auto-ajuda. Por que nossos cineastas conseguiriam sobrepor-se a tantas adversidades? Pode aparecer um gênio da raça, uma exceção. Será pouco e improvável.
"A Menina Santa" (Telecine Cult, 0h05) é, de certa maneira, a súmula da superioridade do cinema argentino sobre o nosso.Quem poderia pensar num filme de tantas ocultações, em que um grande médico gosta de molestar meninas, em que a santinha molestada é bem uma cúmplice de tudo isso. Não, aqui a primeira idéia seria mandar prender o diretor, enquanto o Ministério da Justiça acionaria seus sabujos para colocar empecilhos à possibilidade de ver o filme. Etc.Não é culpa de ninguém. É cultural. Afinal, eles peitaram uma ditadura cem vezes pior do que a nossa e mandaram os torturadores para a cadeia. Nós fizemos uma bela pizza disso tudo. Eles têm uma livraria por esquina. Nós transformamos as nossas em boutiques que sobrevivem de vender ridicularias de auto-ajuda. Por que nossos cineastas conseguiriam sobrepor-se a tantas adversidades? Pode aparecer um gênio da raça, uma exceção. Será pouco e improvável.
À parte a excelência do filme dirigido por Lucrécia Martel (2004) o crítico mistura alhos com bugalhos. Não é possível reconhecer nenhum dos méritos da diretora argentina apenas por essa saraivada de críticas à inferioridade brasileira. Em suma, para ele é algo "cultural". Para legitimar o argumento recorre aos discursos pseudo-históricos de que uma ditadura é cem vezes pior do que outra. Ora, como podemos comparar traumas e dores que são únicas e irremediáveis? Para uma vítima da ditadura brasileira a sua situação é mais branda do que a ocorrida com nuestros hermanos?
É evidente que não estou propondo uma discurso nacionalista barato de se propor uma análise de um país fazer algo melhor do que outro. A produção cinematográfica não é "nacional": este é um dos equívocos das abordagens generalizantes. A produção é um processo coletivo sob as ordens de um diretor. Portanto, há bons e maus cineastas na Argentina, no Brasil, nos EUA, na França, no Irã, na Índia etc...
A análise seria mais interessante se, ao invés de clamar por um "gênio da raça", demonstrasse onde está o encanto da narrativa de Lucrécia Martel. Parece que conviver com o jornalismo diário produz reducionismos irreversíveis na cabeça do crítico.
Um comentário:
Valeu pela dica do filme,
vou incluir nos meus planos para assistir,
Abraços,
Raquel.
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