sábado, 3 de novembro de 2007

Antes que a piada perca a graça!


Sem querer provocar nossos ilustres editores e torcedores corintianos, cujo time pode deixar a zona de rebaixamento na rodada do final de semana, uma brincadeira bem humorada entre a saga do time e o famoso capitão Nascimento.


sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Homens Comuns

Conta a hagiografia que, depois de ter celebrado o dia de “todos os santos” – estes os filhos admitidos à glória eterna, a Igreja lembra hoje daqueles que já salvaram suas almas, mas que ainda não entraram no Paraíso, pois estão no Purgatório, acertando os últimos detalhes.

Pois é, hoje é “dia de finados”. Os cemitérios cheios, flores, mausoléus, lembranças: o passado que emerge com força de uma cova a sete palmos da superfície.

Coincidentemente, acabei de ler ontem à noite uma novela que trata da tensão entre a vida, a saúde, a doença e a morte: Homem Comum (Cia. das Letras, 2007), do escritor norte-americano Philip Roth (Foto).

Um belo livro – o último de Roth traduzido para o português – que narra a história de um homem que, desde muito cedo, vive em sua cabeça as tensões da morte, como se esta fosse lhe surpreender a qualquer instante. Essa circunstância lhe obriga a refletir, já no final da vida, sobre sua trajetória, suas escolhas, suas esposas, filhos e amantes, sua solidão e ressentimentos. Com um texto (o da tradução) muito bom, Philip Roth cativa e envolve o leitor no drama vivido por aquele homem.

Por uma dessas coisas inexplicáveis do destino, ontem à tarde recebi a notícia do falecimento do pai de um grande amigo meu. Lá na beira do rio São Francisco, se não me engano numa cidade inspiradamente chamada de Canoeiros, o seu pai se foi. À noite, enquanto acabava de ler o livro de Roth, eu me lembrava que nunca ouvira esse meu amigo dizer o nome de seu pai. Ele sempre se referia a seu pai, independentemente do interlocutor, como “papai”.

Nessa hora, eu me dei conta que a personagem central do livro também não tinha nome próprio: era somente o homem comum. Eu também me dei conta de que jamais sentira a necessidade de saber o nome dos dois: um era o “papai” do meu amigo; o outro era a “personagem” do livro. Os dois eram, cada um a seu modo, homens comuns, no que isso tem de mais belo, singelo e humano.

Ficam aqui os nossos sentimentos ao Rafael pela perda de seu pai e um trecho do romance de Philip Roth.

“Sabe por que ela está chorando desse jeito”. “Acho que sei, sim”, ele retrucou, num cochicho querendo dizer: é porque ela é como eu sou desde menino. É porque ela é como todos. É porque a intensidade mais perturbadora da vida é a morte. É porque a morte é tão injusta. É porque, para quem provou a vida, a morte não parece nem sequer natural.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Famílias na política

O tema da renúncia do ex-deputado Cunha Lima que é pai do atual governador da Paraíba fez com que me lembrasse de outro escárnio da nossa vida política: a participação de familiares e a constituição de verdadeiros clãs políticos em diversas regiões.

Os grupos políticos familiares, unidos ou não, ultrapassam as barreiras ideológicas, partidárias e estão presentes em todas as regiões do país. É claro que a Constituição assegura a qualquer pessoa a possibilidade de exercer seus direitos políticos. Mas o bom senso dos eleitores ou dos próprios políticos deveria prevalecer. Mas aí seria pedir demais.

Vejamos alguns casos:

Acre: o ex-governador Jorge Viana (PT) é irmão do senador Tião Viana;

Roraima: o senador Romero Jucá (PMDB) é casado com Tereza Jucá, ex-prefeita de Boa Vista;

Pará: o deputado, ex-governador e ex-senador Jáder Barbalho que foi casado com a Eucione Barbalho que também já foi deputada e concorreu a governadora;

Amapá: a deputada Janete Capiberibe (PSB) casada com o ex-governador e ex-senador João Capiberibe;

Maranhão: a família Sarney dispensa apresentações;

Ceará: a família de Ciro Gomes (PSB), deputado e ex-ministro. O irmão Cid é governador e a ex-exposa, senadora Patrícia Sabóia;

Rio Grande do Norte: D. Wilma de Faria (PSB), atual governadora, já foi da família dos Maias, que dominou a política potiguar por décadas;

Pernambuco: O falecido ex-governador Miguel Arraes deixou o espólio para seu neto Eduardo Campos;

Alagoas: nosso Bravo Renan (PMDB), seu irmão Olavo;

Sergipe: a atual senadora Maria do Carmo (DEM) é casada com o ex-senador e ex-governador João Alves Filho.

Goiás: o prefeito de Goiânia, Iris Rezende, que já foi governador, senador e ministro, é casado com D. Iris Araujo (parou de usar Rezende);

Mato Grosso: a família Campos (do ex-senador Roberto Campos, do atual Julio Campos - DEM - e tantos outros da mesma linhagem);

Mato Grosso do Sul: os ex-governadores Wilson Barbosa Martins (PMDB) e Pedro Pedrossian (PP) têm ou tiveram filhos deputados;

Rio de Janeiro: O prefeito César Maia e seu filho Rodrigo, deputado federal e presidente do DEM. Temos o casal Garotinho (PMDB) que agora lançará a filha candidata à vereadora em 2008;

S. Paulo: a família Montoro (ex-governador Franco, hoje tem filho deputado, pelo PSDB), o ex-casal Suplicy (PT); a família Covas (PSDB) cujos filhos e um neto tentaram, mas não obtiveram o mesmo êxito do ex-governador;

Minas Gerais: o atual governador Aécio (PSDB) se projetou como assessor de seu avô Tancredo Neves; na oposição mineira, a esposa do ex-governador Newton Cardoso (PMDB) é deputada;

Santa Catarina: os domínios da família Amin (PP), Espiridião e Ângela, que hoje estão no ostracismo. Lá mesmo em SC há a família Bornhausen, do ex-senador Jorge e do deputado Paulo Bornhausen (DEM).

A lista seria imensa. Os leitores podem colaborar com outros exemplos.

O foro privilegiado e a renúncia de Cunha Lima

O deputado federal Ronaldo Cunha Lima (PSDB-PB) renunciou ontem ao seu mandato. O distinto ex-deputado atirou no antigo opositor e também ex-governador Tarcísio Burity, em 1993. À época, Ronaldo era o governador do Estado e Tarcísio não morreu com o tiro. Faleceu anos depois.

Passados 14 anos o processo estava para ser julgado pelo STF na próxima semana. O ex-parlamentar apresentou sua renúncia nos seguintes termos: "Quero, com esse gesto extremo despir-me de quaisquer prerrogativas para assumir, apenas como cidadão", "a fim de possibilitar que esse povo me julgue, sem prerrogativa de foro como um igual que sempre fui".

O caso agora volta para a primeira instância e o acusado poderá recorrer de todas as decisões até um julgamento definitivo. Mais uma benesse do "foro privilegiado", quando não convém, renuncia-se a ele.

Pelo visto outros deputados pensarão na utilização do mesmo caso.

PêEsse1: Ronaldo é pai do do atual governador paraibano Cássio Cunha Lima, também tucano e que sofreu há pouco uma condenação do TRE por uso da máquina eleitoral em sua reeleição. Recorreu.
PêEsse2: Em Minas, apesar dos apelos públicos contrários, Aécio compactuou com a proposta de foro privilegiado também para deputados estaduais. A questão ainda caminha na Justiça devido à péssima repercussão.

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Uma moeda paralela


Que as ramificações do 4º setor vêm alcançando resultados surpreendentes isso nós já sabíamos. Agora, criar uma moeda paralela que faz frente ao real, e que cresce a um ritmo forte, isso sim é preocupante. Estamos falando do “Palma” uma moeda lançada no estado do Ceará, na cidade de Fortaleza, mais especificamente em um bairro chamado Palmeiras, a pouco mais de 6 anos. No início, devido a precariedade do bairro que viu com o nascimento do real sua economia ruir aos poucos, cada “Palma” valia 0,50 centavos. Isso fez com que cada munícipe dobrasse da noite para o dia seu poder de compra. Claro que no começo não foi fácil, mas aos poucos o Banco de Palmas veio ganhando adeptos por toda a região, hoje a moeda paralela é aceita em mais de 1.000 estabelecimentos da região, e grande parte dos salários são pagos em “palmas”.

E o governo o que pensa disso?

Pode até soar como piada, mas acredite, ele vê isso como algo bom, um exemplo de sucesso. Mas não é! Ter uma economia paralela, com moeda própria significa claramente que algo esta errado. Por isso o 4º setor atrai gente o tempo todo, não porque ele viva simplesmente da irregularidade, mas porque a princípio não exige nada em troca.

O Conta-Gotas antecipou

Tenho lido alguns comentários sobre o TIM Festival e sobre as bandas que tocaram num dos eventos mais aguardados do mês (e olha que outubro foi recheado!). Uns afirmam que foi muito bom, que a Björk estava maravilhosa, a cerveja gelada e as filas pequenas. Outros gritam a plenos pulmões que estava tudo mal organizado, caro, cheio, e que nem a Björk foi tão bem assim!

Divergências à parte, parece-me que houve dois pontos sobre os quais não se discordou: a competência musical do Arctic Monkeys, que, segundo Felipe Machado do Estadão e do blog Palavra de Homem, é composto por uns caras com jeito de nerd; e a agitação febril, quase juvenil, de Juliette Lewis and the Licks. Parece que a moça e sua banda estão conquistando grandes espaços para além do seu cenário natal.

O nosso editor Edu Zanardi já tinha antecipado o vigor da banda e a sua admiração pela atriz/cantora. Para quem quiser conferir o texto sobre a banda e ter uma dica de um bom clipe de Juliette, é só clicar aqui.

Galvão Bueno. A Copa de 2014 já começou!

Se o Galvão Bueno já se empolga normalmente com as eliminatórias para as Copas do Mundo – gritando que “a Copa do Mundo já começou!” – imaginem sua excitação com a divulgação da decisão da Fifa sobre o Mundial de 2014 no Brasil.

Para o Galvão, a Copa de 2014 já começou hoje de manhã, com o anúncio oficial do que todo mundo já sabia.

Porém, é prudente reservar as energias – inclusive as do próprio locutor – para dar conta de cumprir todas as exigências feitas pela Fifa, pois não há nada que garanta legalmente a realização da Copa no Brasil.

Para refrescar a memória, é bom lembrar o exemplo de 1986, quando a Colômbia – que havia sido escolhida para sediar aquele mundial – não conseguiu bater as metas da Fifa e o México se tornou o anfitrião, apenas 16 anos depois de organizar a Copa do Mundo.

Então, Galvão e amigos, economizem a garganta! Ou melhor: vamos utilizá-la para 'reivindicar' as melhorias necessárias: transportes públicos eficientes; infra-estrutura turística; estádios decentes etc. A Copa de 2014 não começou. Aliás, ela ainda nem saiu do papel!

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Um amigo; o padre Lancelotti e a "molecada" de Pajero!

Um amigo meu ficava revoltado – há uns 5 ou 6 anos – quando o padre Júlio Lancelotti aparecia na TV ‘protegendo’ os menores da FEBEM que tinham acabado de fazer uma rebelião. À época, Lancelotti era o nome forte da “Pastoral do Menor”; também à época, a FEBEM ainda tinha esse nome e vivia em constantes rebeliões.

“Ai, os menininhos do padre Lancelotti” – dizia esse meu amigo, em tom irônico. “Se ele quer protegê-los, ele que carregue esses moleques para morar em sua casa”. Para arrematar, fechava o rosto e afirmava: “Direitos Humanos? Para esses moleques? Com eles, o negócio é na porrada!”.

Eu nem sempre concordava com a “dureza” de suas propostas ou mesmo com as suas ironias ou simplificações a respeito dos Direitos Humanos. Na semana passada, porém, lembrei-me desse meu amigo. Evidentemente não para atestar que ele tinha razão, mas para imaginar o que ele deve estar dizendo a respeito do padre Lancelotti.

Estou curioso também para saber no que vai dar o atual caso. E isso por dois motivos: o primeiro, e óbvio, é porque se suspeita do uso de dinheiro público para o pagamento da suposta “extorsão”; segundo, porque o padre Lancelotti sempre se arvorou em discussões sobre a ética e sobre as políticas públicas em São Paulo, tornando-se um dos mais controvertidos agentes da cidade.

São muitas as perguntas e as possibilidades. Qual foi o valor pago ao tal “Anderson” (que zica de nome!)? 50, 60, 600 mil reais? De onde veio esse dinheiro? Fica caracterizada a extorsão? Ex-FEBEM, sem emprego, andando de Pajero e Audi-A3? O padre mantinha ou não relações sexuais com o ex-FEBEM e/ou com outros (as) ex-internos (as)?

Dependendo das respostas encontradas na investigação, o meu amigo poderá se tornar um guru, uma pitonisa, ou simplesmente, um jovem senhor aborrecido que não acredita em Direitos Humanos!

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

CRISTINA!


A primeira presidenta argentina eleita é Cristina Fernández de Kirchner.

Ela foi tema de meu primeiro post no blog, quando foi anunciada a candidatura de la "pengüina". Os analistas argentinos prevêem um governo sem lua de mel. Os desgastes inevitáveis de uma reeleição poderão ser cobrados diretamente da sra. Kirchner. A capital, Buenos Aires, não deu a vitória a Cristina.

Inflação em alta, preços subsidiados e uma política de combate à pobreza classificada de assistencialista são alguns dos desafios imediatos.

A senhora Botox, como a apelidou sua oponente na disputa eleitoral, Elisa Carrió "La Gorda", terá que manter a economia em crescimento sem provocar uma crise inflacionária.

Os partidos políticos argentinos tiveram quase nenhum papel numa eleição altamente personalizada. A oposição também terá que se reinventar. Carrió, após sucessivas campanhas, deve deixar de ser um nome natural, embora já tenha se apresentado como a legítima opositora conferida pelas urnas.

Seja o que for, a vitória dos K é indiscutível.

domingo, 28 de outubro de 2007

Nascido e Criado


O filme "Nascido e Criado" (Argentina, 2006) do diretor Pablo Trapero foi exibido na Mostra de Cinema de SP.

Conta uma história fascinante de um homem solitário após uma tragédia familiar. Apresentado com um estilo de "faroeste" moderno o filme permite reflexões interessantes sobre o país vizinho que escolhe a nova governante nesta data.

Qulaquer análise de filme e relações com outras fontes e linguagens é arbitrária. Mas no filme, para mim, é impossível não pensar no jogo binário civilização e barbárie, exposto pelo escritor e presidente argentino Domingo Faustino Sarmiento em 1845.

A personagem central, Santiago, é um ser cosmopolita de Buenos Aires. É a própria expressão da metrópole moderna que nos acostumamos a ver. Após o acidente, com uma câmera trêmula, o filme corta para um homem recluso e taciturno nas belas paisagens na Patagônia argentina. A neve castiga o pequeno povoado que se tornou o refúgio para o protagonista que quer manter intocável as marcas de um triste passado.

Algumas cenas, como a do cavalo andando na neve, a amizade com o indígena chamado "Cacique" (ele nega-se a dizer que é um mapuche), remetem imediatamente ao texto de Sarmiento e sua incompreensão diante da admiração dos argentinos pelos cavalos. A barbárie descrita no XIX continua seduzindo.

Em outro momento, quando os instintos se afloram e o protagonista está prestes a ter uma relação sexual com a mulher disponível e na situação cabível, o ato é interrompido. A entrega inicial ao instinto cede espaço a uma culpa que ele cultua em silêncio. Será a culpa a expressão primeira do ser "civilizado"? Salve Dr. Freud e seu "mal estar na civilização".

A morte da esposa do Cacique remexe com dores silenciadas, mas não esquecidas. O protagonista segue um outro caminho e reencontra a "civilização" ao voltar para Buenos Aires.

No diálogo final sai caminhando com outra personagem importante e que permaneceu oculta por grande parte da trama: a sua esposa. Desde o acidente não tínhamos clareza do que se passou com ela. No reencontro uma pergunta: para onde vamos? E a resposta emblemática dos tempos atuais: por aí, sem um rumo definido.

Por essas e outras o filme é um convite ao universo argentino e dos diálogos entre estes conceitos do mundo civilizado e bárbaro que coexistem na prática e na tela de Trapero...