Após a sua inexplicável queda, Diego Hypólito pediu desculpas ao “povo brasileiro”! Um judoca fizera o mesmo alguns dias antes. Outros atletas foram na mesma onda.
Não sabia bem por que, mas esse pedido de desculpas havia me incomodado!
Pensei!
Matutei!
Pensei mais um pouquinho e nada!
Agora há pouco, após a vitória de Ricardo e Emanuel na disputa pelo bronze no vôlei de praia, eu compreendi por que o pedido de desculpas não caíra bem!
E só compreendi quando ouvi a entrevista do Emanuel ao final do jogo. Ele falava sobre a partida e tal, e dizia o quanto era importante aquela medalha. Ao arrematar, já com os olhos marejados, ele disse: obrigado a todos que torceram por nós!
É isso!! Saquei (se me permitem o trocadilho)!
Vocês, atletas brasileiros em Pequim, não nos devem (nós, o “povo brasileiro”) nenhuma desculpa. Afinal de contas, são vocês que acordam cedinho, treinam, almoçam, treinam, dormem, treinam, acordam, treinam, se machucam, treinam, remam contra a maré, treinam, vão para os EUA, para a Europa, treinam etc.
É um esforço puramente individual – no sentido de que cada um, mesmo no esporte coletivo, se dedica de corpo e alma à sua atividade, à sua função em quadra, em campo, na pista, na piscina. São vocês que abdicam de outras delícias da vida para buscar a perfeição de um mortal duplo, ou do nado peito com o deslize ideal, ou dos sonhados cinco metros no salto com vara!
Eu, não! Vocês não me devem nada! Eu vivo por aí, sedentário, bebendo meus chopes, dormindo tarde ou nem dormindo! Vivo a maior parte do tempo sentado diante de um computador ou de um livro. Eu nem pago o salário de vocês e, ao que me lembro, não recebi pessoalmente nenhuma promessa de medalhas e nem prometi louros aos medalhistas!
Quando fiquei até mais tarde, ou acordei mais cedo, para ver alguma competição, foi porque eu quis! Ninguém me obrigou e nem fez um contrato moral comigo que justificasse a culpa. Se vocês não corresponderam – ou acharam que não corresponderam – com uma medalha, paciência, pra vocês, é claro! O esforço foi todo seu! Quem sabe na próxima!
Nós, reles trabalhadores, vamos tocar nossa vida (com os chopes, evidente) e, no mais tardar daqui a dois meses, nem lembraremos mais quem perdeu o quê e por quê!
A desculpa não cabe! Vocês não me ofenderam, não ficaram me devendo nada, não erraram comigo! Deveram, no máximo, a vocês mesmos, aos seus técnicos, patrocinadores etc. O tribunal da consciência de vocês não deve se tornar um “tribunal público”: não nos cabe esse julgamento, pois não temos condições de fazê-lo, e nem devemos.
Fiquei muito mais contente com o “obrigado” do Emanuel, que, de tão bem encaixado, me emocionou! Sim, no lugar da culpa, senhores atletas, talvez a gratidão pela torcida, mas gratidão sincera (o que sequer passa pelas cabeças dos nossos jogadores de futebol: nem culpa, nem gratidão pela torcida), daquelas que a gente vê brilhar nos olhos do sujeito! Já estaria de bom tamanho.