quarta-feira, 20 de agosto de 2008

A polêmica das medalhas

Parece não haver mais dúvidas: a China ganhará dos EUA no quadro de medalhas.

Ou melhor: não há duvidas em Pequim; na “América” há! Os jornais americanos estão ordenando a lista a partir do critério de número de medalhas. Como, por enquanto, os norte-americanos têm mais pódios que os chineses, essa nova organização os coloca de volta no topo!

Pois bem! Os critérios são discutíveis. Seria mais justo se cada medalha tivesse um peso: ouro, 10; prata, 6; bronze, 3, por exemplo! Ou: 3, 2, 1. Sei lá! Como indagou um amigo: será que um país X que tem 12 pratas e 25 bronzes teve menos sucesso do que o Y que ganhou um único ouro?

Bom, é uma questão de critério! No critério aceito (e que foi proposto pelos próprios norte-americanos), a China levará fácil! E o Brasil ficará ali na região mediana!

Uma pergunta boa de se fazer é: a que custo a China conseguiu esse sucesso? As notícias que têm sido veiculadas não são muito animadoras!

Ora se fala do “rapto” de crianças com menos de dez anos de idade – na esmagadora maioria, filhas e filhos únicos que passam anos e anos sem ver a sua família para se dedicar a um esporte que foi escolhido pelo... Estado! Sim, de acordo com o tamanho, peso, envergadura, tamanho da mão, enfim, características físicas, as crianças são escolhidas e confinadas em centros de treinamento.

Ora se fala do caso do gigante Yao Ming, da seleção de basquete. Seu caso é emblemático: seus pais – os dois maiores, em estatura, jogadores de basquete de sua época – foram obrigados a se casar e dar à luz o nenê que hoje é um varapau que joga na... NBA! Mais um que nasceu de um casamento arranjado pelo Estado para dar bons frutos à Nação! Estado, Nação, Partido Comunista: uma confusão só na China!

Ora se fala dos atletas que querem mas não podem conceder entrevistas à emissoras de TV ocidentais. Ora se fala da pressão a que os atletas são submetidos – vide o caso emblemático do Liu Xiang, o campeão olímpico dos 110 metros com barreira!

Ontem li um artigo do João Pereira Coutinho que também tratava do assunto e trazia alguns dados perturbadores. O primeiro deles, e mais conhecido, é que essa “estrutura” montada pelo Estado extrapola o âmbito esportivo: as universidades chinesas formam cerca de 4 milhões de jovens por ano. Destes, cerca de 90 mil chegam ao doutorado! A pressão sobre a juventude é enorme, pois nem todos têm emprego garantido!

A revista Psychology Today, ainda de acordo com o artigo do Coutinho, apresentou dados que demonstram qual é o preço do “sucesso” chinês: o suicídio é a primeira causa de morte entre os chineses com idade entre 20 e 35 anos. Cerca de 25% dos universitários chineses têm pensamento suicida recorrente. Para se ter um parâmetro: nos EUA, a selva de pedra capitalista e local privilegiado de extermínio psicológico dos losers, esse número cai para 6%.

Olhando com calma esses números e a “política esportiva chinesa”, cheguei à seguinte conclusão: tá bom o quadragésimo lugar no quadro de medalhas!

Um comentário:

Edu Zanardi disse...

40° lugar, afff... se mata!!!