domingo, 2 de setembro de 2007

Hannah Arendt poeta

Lendo a biografia Nos passos de Hannah Arendt (Record), escrita pela historiadora francesa Laure Adler, descobri que Arendt era apaixonada por poesia e que, em seus momentos de fúria e tormentos, se expressava escrevendo poemas.

Os anos finais da década de 1920 foram, em particular, “tempos produtivos” para Hannah Arendt, poeticamente falando. Nesse período, a jovem estudante atravessava um momento conturbado de sua vida, marcado pelo fim do romance com seu ex-professor e amante, Martin Heidegger, e pela elaboração de sua tese sobre o “conceito de amor em Santo Agostinho”, bastante criticada pelo próprio orientador, Karl Jaspers, que chegou a afirmar que a jovem estudante fizera Agostinho dizer coisas que nunca disse.

Algum tempo após Heidegger ter-lhe aconselhado a deixar a Cidade Universitária, em Marburg, como quem quisesse se livrar de um peso após a ruptura no romance, Hannah Arendt escreve o poema “Canção da Noite” (p. 72):

E se profundamente nos cansamos,
No colo noturno da noite
Esperamos por um suave consolo.

Esperando, podemos perdoar
Toda dor, toda aflição.
Nossos lábios começam a se fechar –
Sem som o dia inicia sua ascensão.

Para quem quiser conferir essa outra face de Arendt, sugiro a leitura da biografia feita por Adler, bem escrita e bastante precisa no delineamento da personalidade de Hannah.

2 comentários:

Marcio disse...

Bela poesia, confesso que não conhecia esse lado da Arendt.
Valeu pela dica.

Raquel Sallum disse...

Percebo que a característica de um poeta ou o escritor em si, reflete sempre na sua vida, devido as frustrações, é como escrever um desabafo, chega a sentir um alívio quando as palavras são transportadas para o papel. E,
adorei a poesia!