sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Sem Controle... do passado!

Nesta semana, eu fui assistir ao filme de estréia da diretora (que já foi assistente de direção uma porrada de vezes) Cris d’Amato, Sem Controle.

Uma escolha arriscada por dois motivos: as críticas que li não recomendavam tanto o longa-metragem e havia muitos outros filmes, remanescentes da Mostra, que estavam em cartaz. Porém, ao final da sessão, aquilo que tinha sido arriscado se mostrou acertado. Ufa...

Por quê? Vou responder em tópicos e com o cuidado de não estragar a “surpresa” dos que vão assistir.

1. A sinopse do filme é: um diretor de teatro, Danilo (Du Moscovis), entra em colapso nervoso após ver o fracasso de sua última peça, que contava a história do fazendeiro Motta Coqueiro, morto injustamente em 1855, no episódio que iniciou o processo de extinção da pena de morte no Brasil. Ao ser internado numa clínica psiquiátrica, Danilo resolve reescrever a peça e encená-la com os demais pacientes.

2. O primeiro mérito do filme está na tensão criada pela diretora entre o passado e o presente, entre a ficção e a realidade. Os espectadores são forçados a viajar por três tempos diferentes durante a trama: pela vida de Motta Coqueiro, pela vida real de Danilo e pela encenação da peça.

Com isso, Cris d’Amato pôs em debate um tema que tem repercutido muito nos últimos dias, por conta de Tropa de Elite: a confusão entre a realidade e a sua representação. Apesar das críticas e sinopses apontarem para o tema da pena de morte como o assunto central na narrativa, para mim ele só aparece em segundo plano, bem por baixo do problema das temporalidades e da tensão entre realidade e ficção.

3. Sem Controle provoca o espectador, fazendo-o projetar o final do filme o tempo todo. A pergunta que se lança é: a história se repetirá? Há destino comum? O teatro é a própria vida real ou é só uma “invenção”? Essas perguntas ecoam ainda mais forte com as sutilezas encontradas por Cris d’Amato para “confundir” os espectadores, como, por exemplo, quando são focalizados os livros que as personagens lêem (e que não citarei para não cortar o barato!).

4. Outro elemento técnico interessante é a forma como a diretora organizou a câmera e a edição do filme: tudo muito rápido, com uma câmera bastante inquieta e cortes bruscos. Uma amiga que assistiu ao filme comigo registrou a sensação: “dá a impressão que tá fora de foco, né?”. É. E isso somado à trilha sonora meio sombria e lenta dá um contraste fantástico.

5. Há outros méritos no longa-metragem, como a ênfase na loucura e em seus lados criativo e destrutivo, ou mesmo a retomada da trajetória de Motta Coqueiro e da discussão sobre a extinção da pena de morte no Brasil, no Segundo Reinado. Há, como sempre, algo que merece ser questionado, como a concepção de história que subjaz o filme.

Ainda assim, é um filme que merece ser visto. Para quem quiser conferir o trailer, é só clicar aqui.

2 comentários:

Raquel Sallum disse...

Vou conferir o filme me parce interessante a temática. "Valeu pela dica Anderson."
Abraços!
Raquel sallum

Edu Zanardi disse...

Ah, Sem Controle... Na votação da Mostra dei nota 3 (bom).

O ritmo é quebrado, boa edição e muito perspicaz o comentário do foco. Destaco a atuação da femme fatale Milena Toscano - a seqüência do anel é perturbadora!!