Parem de falar mal de São Paulo, por Júlio Maria
Falar mal de São Paulo se tornou um clichê sem graça que habita o mesmo universo de clichês sem graça do tipo ‘a chuva voltou’ ou ‘que calor, né?’. Aquele tipo de papo furado que engatamos com um conhecido no elevador, de quem sabemos que vamos nos livrar em minutos. Um lugar-comum em farrapos, um mantra barato. Frases feitas do tipo ‘ não agüento mais esse trânsito’ ou ‘esse tempo louco da cidade’ deu o que tinha de dar e este colunista, humildemente, vem por meio desta solicitar sobretudo aos não paulistanos que pisam essas terras que, por obséquio, PAREM DE FALAR MAL DE SÃO PAULO.
Uma dica aos forasteiros: não falem mal de São Paulo a qualquer paulistano. Ele vai concordar com você para não ser mal educado – discrição é uma de suas marcas – mas no fundo sentirá o impulso de enfiar um prego em seus olhos sobretudo se você estiver bem de vida e sustentando sua família com um belo emprego que só conseguiu, olha que coisa, em São Paulo. Arremesso a única lança para combater todos os clichês que tentam tornar a Grande Mãe uma velha amaldiçoada. Se o trânsito é insuportável, as ruas são sujas, o céu é cinza, a garoa não pára, os faróis são perigosos, há fila para tudo, os ônibus são lotados e as pessoas são chatas, o que é que o senhor e a senhora estão fazendo aqui?
Se São Paulo fosse uma pessoa, seria uma mulher cansada, daquela que faz tudo por seus filhos, sejam eles legítimos ou deixados em uma cesta na porta de sua casa. Uma senhora que adora receber gente sem ver a cor de seus olhos ou questionar suas reais intenções. Então, depois que os cria e lhes dá emprego, passa a ser agredida. Esses mesmos filhos, apesar de tudo, continuam morando em sua casa e mamando do seu leite. Criem vergonha, filhos de São Paulo. Os senhores não sabem, mas estão na melhor cidade do mundo, segundo uma pesquisa cem por cento imparcial feita por mim mesmo cada vez que tiro férias e consigo conhecer uma outra cidade do Brasil. Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Belém, Salvador, Curitiba, Porto Alegre, Campinas, Londrina, Americana, São Gonçalo do Pará (é, o dinheiro foi acabando) – tudo lugar para se ficar cinco dias e sair correndo de volta para São Paulo. E o que faz essa cidade ser tão irresistível? Anotem aí: a) Não há em nenhuma outra cidade do País um parque equivalente ao do Ibirapuera com tudo o que ele tem, incluindo museu, planetário, marquise. b) Não existe outro corredor cultural como a Avenida Paulista, com duas livrarias gigantes nas extremidades (Fnac e Cultura), além de um bosque (Trianon) e um museu (Masp) no meio. c) Pense em um prato típico da Indonésia ou do Mali e corra para um restaurante sempre de portas abertas e garçons sorridentes. d) Inútil procurar um pastel de feira como o de São Paulo fora de São Paulo. e) Ninguém com vontade de trabalhar fica cinco dias desempregado por aqui.
Nenhuma outra cidade oferece oportunidade de se ouvir tanta música. Se você leva duas horas no trânsito para ir trabalhar, pode ouvir uma média de dois CDs inteiros na ida e outros dois na volta. Experimente amanhã o novo de Bruce Springsteen para ir e o novo de Teresa Cristina para voltar. Graças ao trânsito, o paulistano tem muito mais cultura musical. Mas lembre-se de um detalhe. A Grande Mãe não perdoa quem vacila. O que quer que você forasteiro queira fazer por aqui, faça direito. Os fracos, como diria um certo capitão Nascimento, são os primeiros que pedem pra sair.
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Resumo o texto de Júlio usando a frase de uma amiga forasteira que comentou: Se São Paulo tivesse praia, o Rio de Janeiro não apareceria nem no mapa!
No clipe da semana, nada mais justo, e paulistano, do que Ira! com Envelheço na Cidade.
20 comentários:
Exatamente por São Paulo compartilhar da moral do BOPE é que devemos sempre reclamar da cidade, paulistanos ou não. Afinal, podemos inverter um pouco as coisas. Não é só São Paulo que dá emprego as pessoas também dão seu trabalho pela cidade. E tomam umas belas chineladas da mãe mesmo quando fazem seu serviço direitinho.
"Ninguém com vontade de trabalhar fica cinco dias desempregado por aqui."
Moral do Bope? Bem, aqui temos a moral dos "taxistas-malufistas", talvez o maior motivo para reclamar da cidade.
Como toda cidade tem seus problemas, mas eu gosto muito disso aqui!!
Pqe. do Ibirapuera, Av. Paulista, o Centro de São Paulo...
O texto é irônico? Fiquei na dúvida.
Se for irônico, não é muito engraçado. Se não for, é deprimente.
Mari, o texto não tem nada de irônico. Gostaria de entender o que o torna deprimente?
Não vejo problema algum em exaltar as qualidades da nossa cidade e pedir um pouco mais de respeito por ela. Paulistanos ou não.
O texto é inconstitucional, fere a liberdade de ir e virn e a liberdade de expressão. Numa democracia, posso ir a qualquer lugar e me expressar como bem entender. Se quiser falar mal de qualquer coisa, eu posso! O texto fala o que quer, logo ouvirá o que não quer. O tom dele lembra o Médici: "Brasil: ame-o ou deixe-o". Engraçado, mas nos anos 1970 o Chico falava mal, o Caetano falava mal... E foram embora! Será que teremos que mandar todo mundo embora de SP?
Fecho com uma coisa típica dessa grande cidade: "A terra é uma beleza, o que estraga é essa gente..."
Heil Hiltler! Voltamos a Berlim de 1936: falou mal, fechou o pau! Os "legítimos ficam ofendidos" e mandarão você embora!
Viva a democracia!
Esqueci de dizer: valeu o post! A idéia de apimentar o aniversário foi muito boa!
Mesmo assim, lembremos: um espaço só existe na medida em que as pessoas interagem com ele, como me lembra meu bom amigo Anderson.
Logo, Edu, o texto é deprimente nos seus argumentos porque parte de uma premissa distorcida, raivosa e mesquinha. Pedir respeito, com respeito, ótimo. Não há o menor problema. Vc tem razão nisso. Mas, pedir respeito com argumentos pobres e intolerantes é, no mínimo, pobreza de raciocínio. Porque é, igualmente, desrespeitoso. E, lembrando Gandhi, se olho por olho e dente por dente, viveremos num mundo de banguelas e cegos.
O texto é irônico no final, eu creio. Ouvir música no carro é ganhar cultura musical é, nitidamente uma brincadeira. Elogiar a cidade não significa fechar os olhos para seus inúmeros problemas (inerentes a todas as megacidades do mundo). Trânsito não serve para nada... Ponto!
Para encerrar, uma dúvida no seu raciocínio. E, por favor, não é provocação. É dúvida para entender seu argumento na resposta a Mari: Para você, existe uma cidade que antecede as pessoas, como entidade mitológica? São Paulo, entidade, a priori das pessoas que lá moram ou que a usam, existe? Como funciona isso? Se Sâo Paulo esvaziasse, ela continuaria merecendo respeito? Ou você se sente feio quando ela é taxada (por vezes, injustamente!) de feia? Logo, São Paulo nõo seria o que fazemos dela e, por vezes, fazemos feio sim e não nos damos ao respeito?
Abraço
Gostei muito do texto e vale como homenagem. Falar mal e reclamar não adianta nada, quem faz a cidade (boa ou ruim) somos nós.
Sou obrigado a me controlar por aqui??? Comem da comida paulistana, esbaldam-se na bebida paulistana e os calhordas chamam o texto de deprimente??? Me poupem, burros... São é cosmos, e é muito mais do Rio de Janeiro,... e como bem diz a frase: " Se São Paulo tivesse praia, o Rio de Janeiro não aparecia no mapa do Brasil!!!". Reclamar de São Paulo é como bater na mãr, mané. E deprimente é reclamar de quem te sustenta.
Perdi a linha. Foda-se...
calma boi, mas estou contigo !!
Concordo com o boi também...
E não há nada de inconstitucional no texto, ninguém está impondo que não se fale mal...
Mas vai da conciência de cada um...
Eu acho absurdo falar mal de uma cidade que tem TUDO a oferecer pra quem quiser, não somente aos seus habitantes.
1- O texto parte claramente da premissa de que só fala mal de São Paulo que não é daqui, os "forasteiros". Como se paulistano não reclamasse da cidade. Pééé: premissa falsa.
2- O texto pressupõe que a "cidade" oferece muito às pessoas. Mas são as pessoas que fazem a cidade. Como bem disse o duda, ela não é uma entidade mitológica, não precede as pessoas que nela moram, que nela estão, que a constróem. É a cidade que é feita pelas pessoas, e não vice-versa (!).
3- O texto é claramente voltado para um setor social. Afinal, não pega trânsito só quem fica no carro ouvindo cedês. Pega trânsito quem pega ônibus lotado às 6 da manhã para ir trabalhar na pqp lavando o banheiro do cara que veio de carro ouvindo cedês - e que ainda fica bravo do outro reclamar do sistema de transporte da cidade.
4- São Paulo deve ser elogiada, sim. Acho que isso pode aconmtecer mais vezes, concordo. Mas isso não exclui que se faça críticas. E São Paulo deve ser também, e muito, criticada, por seus inúmeros e gigantescos defeitos (sentidos com muito mais intensidade por uns do que por outros). Não aceitar críticas é ser intolerante e mesquinho. Quem mora em São Paulo e se incomoda com suas aberrações tem todo o direito de criticar e mais ainda o dever de fazer alguma coisa para tornar essa cidade mais viável e razoável.
boi,
Não se preocupe por perder a linha, acontece com todo mundo. Eu mesma tive uma reação parecida com a sua quando li o artigo, mas preferi e consegui me controlar e comentar de maneira o mais educada que eu consegui...
edu,
Eu acho que o texto é deprimente porque insiste em se colocar unilateralmente na discussão, ou melhor, em acabar com qualquer possibilidade de discussão e de dissenso. O texto é quase fascista e eu acho isso deprimente sim.
E respeitar a cidade não significa parar de reclamar, convenhamos. No texto parece que os problemas de São Paulo irão desaparecer se pararmos de dizê-los em voz alta. Respeitar a cidade é outra coisa, é, por exemplo, tentar criar outras formas de se locomover que não ir cada um solitariamente no seu carro ajudando a entupir e poluir a cidade: transporte público, revezamento de caronas com amigos, bicicleta, sei lá. Respeitar a cidade para mim é criticá-la e pôr a cabeça para pensar para diminuir os motivos de crítica. Respeitar não é fechar os olhos e parar de criticar. Inclusive acho que não criticar é mais um desrespeito à cidade pois ignora o esforço homérico que ainda tem que ser feito por ela.
Bom, percebi que vocês gostam de utilizar palavras bonitas e um discurso de pluralidade, explorando o texto de forma educada e equivocada... vocês estão dando uma formatação linear para o texto que ele não possui... São Paulo oferece muito a todos... a elite não visita o parque do carmo e a prole não visita, via de regra, vernisages oferecidas em noitadas da "elite intelectual". Diga-se de passagem, esses liberalistas intelectuais, que sacrificam o bom texto, são os mesmos que apregoam mentiras sócio-pedagógicas, como o construtivismo, dizendo que repetência "deprime". Taxistas -malufistas??? É bem legal generalizar... bastante inteligente...
São Paulo é uma grande cidade, que oferece a oportunidade. Basta persistência. Mas a crudelidade é mundial. Retirem-se, afinal, no Rio de Janeiro não há desemprego, nem violência. Paris é bem calminha. Ah, os alpes suiços recebem muito bem os estrangeiros. A indústria é bem receptiva aos estrangeiros. Que tal Islamabad? Lá deve ser bem mais emociante... Vão pra lá, filhotes da pseudo-faculdade...
Ah, e ser polido é a verdadeira inconstitucionalidade.
Nossa, quantos juristas por aqui... Dudinha "Mão de freio", Gabriel "Dono da Verdade",...
Eh deprimente ler os comentsrios, isso sim.
Sou PAULISTANO, me orgulho de minha cidade e sinto-me acolhido aqui. Prezo por cada pedaço dessa terra e me aborreço com a falta de respeito dos que a saqueiam.
Pra mim, como pra muitos, tenho certeza, nao ha Rio de Janeiro no mapa. Samba, trafico, prostituiçao, morros, pancadao e praia nao fazem parte de meus pontos de interesse.
Avante Sao Paulo!!!! Parabens amada cidade, por suportar os ignorantes por mais um ano e manter-se de pe, digna e sublime! Locomotiva do Brasil.
Bruno
bbertolazzi@gmail.com
Parabéns Bruno... Falou menos que eu, com mais educação e deu show...
"A Forasteira" da frase que o Edu citou ao final do texto sou eu.
Na verdade não sou uma total forasteira, já que nasci na grande São Paulo, mas me mudei cedo, só voltei para a cidade na época de faculdade. Hj estou morando em Ctba.
Eu não era nenhuma defensora da cidade, e bastava ouvir alguém salientando suas características negativas, que eu me juntava para apedrejar.
Acontece que depois de conhecer outras cidades do nosso Brasil, e mesmo não morando mais em São Paulo, fui obrigada a me dobrar a seus encantos. A ficha caiu num passeio a tão conhecida "cidade maravilhosa".
Bem, o Rio de Janeiro conhecido pelas suas belezas já deve ter sido maravilhoso, o problema foi que os cariocas acabaram com grande parte da natureza. E não me venham nenhum carioca metido, me dizer que quem polui o RJ são os turistas, a porquisse da cidade vem dos próprios cariocas. (Opa me deu um ataque Boi).
Agora, antes que eu me esqueça Gabriel, vamos a um raciocínio lógico que aprendi na faculdade: (Edu o nome disse é falácia?)
SE A CIDADE É FEITA DE PESSOAS;
E AS PESSOAS SÓ FALAM MAL DA CIDADE;
LOGO, ESSAS PESSOAS ESTÃO FALANDO MAL __________ (FICA PRA VC COMPLETAR).
Anyway, São Paulo é uma cidade de negócios, tem que ser funcional e nesse quesito ela passa com louvor. Tem infra-estrutura pra receber bem qq raça, crença, costume, e viva a diversidade.
E pelo amor de Deus se alguém já começar a pensar que ela não é funcional por causa do trânsito, poluição, transporte... isso são problemas de qq cidade grande. E como todo brasileiro gosta de americanizar, New York tb tem esses problemas.
Edu, Boi e Bruno espero ter conseguido passar minha msg tão bem qto vcs.
Ò grande Cidade terra da garoa e acolhedora como sempre. E como disse a nossa colega evelying Viva a Diversidade!! se ficassemos a maior parte do tempo reclamando da nossa cidade, perderíamos muito tempo em fazê-la melhor! se cada cidadão pensasse em resolver os seus próprios problemas, talvez teríamos uma cidade com maior aceitabilidade. (tentei) Parabéns grande São Paulo que nos ensina todos os dias a viver com a diversidade de pessoas que só nos enriquece!!!!!!!!
Abraços Edu e adorei o texto!!
Meus tchutchucos,
Como a coisa saiu de controle (excelente), tentei entrar em contato com o dono do texto, Júlio Maria do JT, mas até agora não obtive retorno.
Pois bem, vamos lá... O texto não é inconstitucional, “numa democracia posso ir a qualquer lugar e me expressar como bem entender”. Começamos bem. Acho que o Duda perguntou e respondeu tudo. Não existe cidade sem as pessoas (aquele papo mitológico), nós fazemos a cidade, então estamos reclamando de nós mesmos. Se SP é uma merda, logo, todos nós somos uns merdas. Não tem nazismo ou “médicismo” no texto. Numa primeira leitura concordo com a Mari que ele tem um “Q” fascista, um tom de ameaça. Mas essa não é de longe a intenção da publicação – mas como estamos em uma democracia, cada um escreve, lê, pensa e comenta o que quiser, e isso é ótimo. Voltando, parti do seguinte raciocínio quando publiquei o texto: Independente de paulistano ou forasteiro (os dois), pelo menos uma vez vamos parar de reclamar da nossa casa. Ela não tem culpa da porcaria que nós a transformamos (NÓS, independente da onde tu nasceu). Ficar reclamando sentadão, comendo amendoim e jogando o conezinho de papel no chão não ajuda em nada. O que eu fiquei mais "puto" foi que os críticos nem sequer, no dia do aniversário da nossa casa, um parabéns escreveram. Ela merece, por tudo que agüenta de você, de mim, de todo mundo. E ainda assim oferece muita coisa em troca, como foi listado. Uma homenagem a grandeza da nossa cidade no dia dela. A parte do trânsito foi sim irônica, concordo. Temos os outros 364 dias do ano para “identificar e fiscalizar os pontos de melhoria” (isso é coisa de RH né, rs) e cobrarmos das autoridades (in)competentes que esses problemas sejam sanados. Reforço mais uma vez que não há nenhum cunho fascista ou separatista no texto, ou pelo menos não foi essa a minha intenção em publicá-lo. Paulistanos ou forasteiros, forasteiros ou paulistanos, somos todos cidadãos de SP morando debaixo do mesmo teto cinza e cheio de goteiras.
Enfim, quero agradecer demais os comentários de todos. Críticos ou favoráveis ao texto, como disse o Duda (ele na verdade disse quase tudo, rs) “um espaço só existe na medida em que as pessoas interagem com ele”, e foi isso que aconteceu aqui. Venho acompanhando algumas discussões entre blogueiros e uma das grandes crises é a falta de comentários nos blogs. Bom, se for por isso eu me dou como satisfeito, pois a manifestação de vocês foi sensacional. Valeu galera!
Viva São Paulo!
Non Dvcor Dvco.
Pobre SP, Pobre Paulista!
Falô meu...
Falou tudo!
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