quinta-feira, 27 de março de 2008

Obscurantismo

Não, não. O título deste post não se refere às falas do presidente Lula em Recife, ontem, durante o lançamento de obras do PAC ou qualquer outro festejo. Empolado, Lula soltou a pérola a respeito de Severino Cavalcante (aquele que era presidente da Câmara e que renunciou para não ser cassado no escândalo do mensalão e do mensalinho):

“Eu estou vendo um homem ali, o Severino, que foi presidente da Câmara. E ele foi eleito presidente da Câmara porque a nossa oposição queria derrotar o governo achando que o Severino ia ser contra o governo. Pois bem, elegeram o Severino. Não levou muito tempo, eles perceberam que o Severino não era oposição ao governo. Eles trataram de derrubar o Severino com a mesma facilidade que o elegeram e, certamente aquela parte da elite paulista ou do Paraná que te convidava pra fazer palestra toda semana, pra falar mal de alguns projetos, hoje, se te encontra na rua, não cumprimenta e eu continuo tendo o mesmo respeito hoje que eu tinha por você há muito tempo atrás porque a relação humana não é feita apenas de um momento”.

Quem derrubou o Severino, cara-pálida? Seu Lula, o sr. continua a respeitar o Severino? É por isso que tem perdido o respeito de muita gente!

Deixemos de lado essas “bobagens” e vamos ao que interessa.

Como ia dizendo, o obscurantismo do título não alude (só) aos discursos do Lula. Na verdade, a ignorância a que me refiro neste post vem do cotidiano escolar brasileiro.

Soube, por meio de uma amiga professora, que a coordenadora de sua escola – estadual, diga-se de passagem – obriga (sim, obriga!) os alunos a rezarem o Pai-nosso todos os dias antes de entrar em aula!

“Ora, ora, mas qual é o problema?”, ela pergunta, quando é questionada por alguém.

Eu responderia: nenhum, sra. coordenadora, exceto o fato de o Brasil ser uma República laica e de a escola ser pública, não há problemas!

“Mas e se os alunos cujas mães são do Candomblé quiserem fazer os seus ritos antes das aulas?”, já lhe perguntaram. E ela respondeu: “ah, não, mas isso é coisa do demônio, não é universal. Pai-nosso é para todo mundo”.

Está resolvido: a escola é dela e ninguém tasca! A noção de público é a mesma daquela do Severino: capenga!

E assim nós vamos adiante. Confundindo aqui, embromando ali!

3 comentários:

Fernanda disse...

Que o Brasil é um país de maioria cristã, isso é fato.Porém, como dito no texto, é um Estado laico.

É engraçado como ainda hoje, algumas pessoas tem essa visão de "Candomblé é coisa do diabo".
Ao invés de se preocupar em obrigar os alunos a rezarem, o que não quer dizer que estão evangelizando (que acredito ser a intenção), ela deveria sim se preocupar se eles estão de fato aprendendo o que lhes é passado em sala de aula.
Que é essa a função dela naquele momento.

Essa é uma questão cheia de pormenores, ficaríamos uma eternidade debatendo sobre isso....

Anônimo disse...

Ontem o Lula forçou a barra !! Coisa de político ... fazer o quê !

Raquel Sallum disse...

Referente ao comentário da escola obrigar os alunos a rezarem, bom, na escola onde dou aula uma professora de Geografia "evangélica"todos os anos ela promove um grupo de estudantes para cantar em um coral, só que neste coral só pode cantar música evangélica!!! ( acredita) Quando uma outra professora de Artes deu a idéia de cantar MPB, ela disse que não poderia,pois, não daria tempo ensaiar os alunos por não ter conhecimento da letra. Ai fica aquele clima, ninguem toma partido do assunto e fica por isso mesmo, a direção não se posiciona por ser nova na escola e o profesor é da casa a mais tempo. E assim caminha a humanidade!