sexta-feira, 20 de junho de 2008

Boa, Caetano!

Um amigo meu tem ojeriza a três nomes do cenário nacional: FHC, Jô Soares e Caetano Veloso. Ele diz que dá até “urticária” quando vê esses “vendidos” na TV!

Embora admita que os três não sejam exemplos de simpatia, humildade e carisma, eu não tenho essa relação “amor-e-ódio” tão intensa com esses figurões.

Mas não é que o Caetano Veloso subiu um pouco mais no meu Ibope!?

Eu já lhe tinha em alta conta por causa de versos como: Uma tigresa de unhas negras e íris cor de mel/Uma beleza que me aconteceu/Esfregando a pele de ouro marrom/Do seu corpo contra o meu/Me falou que o mal é bom e o bem cruel.

Ou então: Não me venha falar/Na malícia de toda mulher/Cada um sabe a dor/E a delícia/De ser o que é...

Ontem ele se superou, e não foi escrevendo músicas.

Caetano Veloso respondeu a Fidel Castro – que tinha lhe ‘acusado’ de ‘curvar-se ao império’, alegando que o cantor tinha pedido desculpas aos Estados Unidos por conta de sua música Base de Guantánamo. E a resposta foi imponente, forte, encorpada: “Se não me submeto ao poderio norte-americano, tampouco aceito ordens de ditadores”. Boa, Caetano!

Vale a pena ler a íntegra da resposta (extraída do site do cantor):

“Não pedi perdão a ninguém. Procuro pensar por conta própria. Minha irreverência diante dos poderes estabelecidos é impenitente. Dois dias depois de dar a entrevista citada por Fidel, eu disse à televisão austríaca que a tendência sociológica de considerar o racismo no Brasil pior do que o apartheid na África do Sul é uma manobra da CIA. Sou um artista. Minhas palavras são: criação e liberdade. Se não me submeto ao poderio norte-americano, tampouco aceito ordens de ditadores. Fidel nos deve explicações a respeito de sua identificação com os estados policiais que o comunismo gerou. Hoje toda a esquerda silencia sobre a Coréia do Norte, como silenciava sobre a União Soviética na minha juventude. A canção “Base de Guantánamo” não seria composta se eu não tivesse a evidência de que nos Estados Unidos há respeito aos direitos dos cidadãos como não se vê em Cuba. A decisão da Suprema Corte americana, reconhecendo o direito a habeas corpus aos prisioneiros de Guantánamo é expressão disso. Tampouco seria possível a canção sem o valor simbólico que a revolução cubana tem em nossas mentes. Lembro de ter sentido, quando excursionava com Fina Estampa, que a tragédia de Cuba (com liberdades cerceadas na ilha e uma população inimiga do regime atuando em Miami) era mais vital do que a segurança dessangrada de Porto Rico. Tenho idéias e reações emocionais complexas. Não aceito pacotes fechados. O texto de Fidel é autocongratulatório, prolixo e injusto. Sobretudo com Yoani Sánchez, a cubana que mantém o blog “Generación Y” (http://www.desdecuba.com/generaciony/). Ela e seu marido Ricardo Escobar deram a resposta que eu gostaria de dar a Fidel. Ainda volto ao assunto.”

Boa, Caetano!

Além disso, o cantor brasileiro já estava na ‘lista negra’ de Fidel Castro após ter dito, em entrevista à Folha de São Paulo (26/05/08), que em “questões de direitos humanos e as questões de liberdade e respeito aos homens, sou 100% mais EUA do que Cuba”.

Caetano entrou para o time de Saramago, Almodóvar, Carlos Fuentes e Cia. Ltda: “adeus, Fidel”!

3 comentários:

Fábio Almeida disse...

Hay "Caetano", soy contra!

Anônimo disse...

Música de 1979 feita por João Nogueira em homenagem à Caetano Veloso:

Iô-iô você exalta a Bahia/porém nunca mais por lá ficou/ e deu pra falar mal do Rio morando aos pés do redentor/ Até que no início você parecia que era um bom rapaz / Mas com essa mania de estar todo dia em jornal: Falou demais / iô-iô olha o homem que é homem não muda que nem você mudou / Não cospe no prato que come / nem vai contra o povo que o sagrou / em que casa de marimbondo você foi mexer porque é falador / e agora só vai ser chamado de iô-iô / iô-iô que arapuca você colocou a carroça na frente dos bois / e macaco velho não põe a mão em cumbuca e você pôs / Você vive inventando moda / jogada pra estar sempre em cartaz / e é tanta conversa fiada que ninguém aguenta mais / agiu de má fé nas paradas / só que dessa vez ninguém engoliu / e cai numa mesma mancada que agora é uma boca de funil / ninguém mexe com quem tá quieto / ainda mais carioca que é gozador / e agora só vai ser chamado de iô-iô

Fernanda disse...

Muito boa, Caetano!