Festa de aniversário da Neuma! O alto comando da Mangueira ia todo estar presente, para “bebemorar” e comer a feijoada, cozinhada carinhosamente pelas pastoras. O cheiro gostoso das carnes e dos temperos já se fazia sentir longe. Fazia quase seis meses que Mestre Cartola morrera.
Viera gente de todos os lugares, da Portela, do Império Serrano, do Estácio de Sá, da Serrinha.
A roda foi se formando: cavaco, violões, pandeiro, cuíca, tamborim, ganzá, atabaques e surdo. A cantoria foi tomando corpo.
A música só parou quando foi servida a feijoada, e entre torresmos e costelas o pessoal se esbaldava, era batida na caneca de chope e chope na xícara de café.
Os sambas e as rimas dos partidos iam surgindo. O pessoal ria, comia, cantava. Se esbaldava na cadência ardente do samba, que embriagava mais que cachaça e cerveja.
Lá pelas tantas Nelson Sargento entoou um samba feito por outro compositor, Babaú, em homenagem à Cartola:
Cartola, Cartola / Poeta Angenor de Oliveira / Receba estas rosas / Quem lhe oferece é a Mangueira / As rosas não falam / Exalam o perfume colossal / Bem semelhante ao perfume do teu samba / Que você fez original / Cartola é bamba é samba / É paz e amor / Suas obras produzidas em Mangueira / São todas de real valor
O pessoal aplaudiu, e Aluísio de Oliveira pediu a palavra - Eu também fiz um samba pro Cartola:
Um violão silenciou / Um poeta emudeceu / O samba chorou / Mestre Cartola morreu / Cartola deixou obras magstrais / Nascidas em momentos geniais / As rosas não falam / O sol nascerá / Alvorada lá no morro e Acontece / São obras que ninguém esquece.
Os autores foram cumprimentados e logo Délcio Carvalho pediu o tom:
A poesia chorou / A boemia também / A beleza abriu seu pranto no ar / E depois chorou como ninguém / A simplicidade sentiu / A partida do poeta / Que cumpriu o seu destino / De espalhar amor / Por nosso interior
Nem bem Délcio findou de receber os elogios, Nelson Sargento com sua voz imperfeita e expressiva começou:
Só um Peito Vazio descobre / que O mundo é um moinho / E quando isso Acontece / A Alegria vai embora... / E as Cordas de Aço de um violão / Solam baixinho / Uma canção que se chama Disfarça e Chora / Eu confesso que / Tive Sim, um Amor Proibido / Vai, amigo e diz-lhe / O quanto tenho sofrido / Mas tudo se ajustará / Numa grande Alvorada / O Sol Nascerá / Pouco importa depois / Só estaremos juntos Nós Dois / O nosso amor brilhará / Numa noite tão linda / As rosas não Falam / Mas podem enfeitar / A grande Festa da Vinda...
Os compositores, emocionados, se calaram. Realmente, o velho Sargento se superara.
Àquela altura do campeonato, o feijão e o chope tinham propiciado o clima perfeito para que cada um se sentisse flutuando.
E foi aí que, olhando o luar filtrado pelas nuvens pesadas, lembrando o amigo morto, o poeta pintor de telas e paredes, Nelson Matos, codinome Sargento e marechal honorário nas brigadas do samba, abriu a boca de raros e maltratados dentes, pronunciando, talvez sem saber, o verso mais bonito da noite:
- Cartola não existiu. Foi um sonho que a gente teve...
Viera gente de todos os lugares, da Portela, do Império Serrano, do Estácio de Sá, da Serrinha.
A roda foi se formando: cavaco, violões, pandeiro, cuíca, tamborim, ganzá, atabaques e surdo. A cantoria foi tomando corpo.
A música só parou quando foi servida a feijoada, e entre torresmos e costelas o pessoal se esbaldava, era batida na caneca de chope e chope na xícara de café.
Os sambas e as rimas dos partidos iam surgindo. O pessoal ria, comia, cantava. Se esbaldava na cadência ardente do samba, que embriagava mais que cachaça e cerveja.
Lá pelas tantas Nelson Sargento entoou um samba feito por outro compositor, Babaú, em homenagem à Cartola:
Cartola, Cartola / Poeta Angenor de Oliveira / Receba estas rosas / Quem lhe oferece é a Mangueira / As rosas não falam / Exalam o perfume colossal / Bem semelhante ao perfume do teu samba / Que você fez original / Cartola é bamba é samba / É paz e amor / Suas obras produzidas em Mangueira / São todas de real valor
O pessoal aplaudiu, e Aluísio de Oliveira pediu a palavra - Eu também fiz um samba pro Cartola:
Um violão silenciou / Um poeta emudeceu / O samba chorou / Mestre Cartola morreu / Cartola deixou obras magstrais / Nascidas em momentos geniais / As rosas não falam / O sol nascerá / Alvorada lá no morro e Acontece / São obras que ninguém esquece.
Os autores foram cumprimentados e logo Délcio Carvalho pediu o tom:
A poesia chorou / A boemia também / A beleza abriu seu pranto no ar / E depois chorou como ninguém / A simplicidade sentiu / A partida do poeta / Que cumpriu o seu destino / De espalhar amor / Por nosso interior
Nem bem Délcio findou de receber os elogios, Nelson Sargento com sua voz imperfeita e expressiva começou:
Só um Peito Vazio descobre / que O mundo é um moinho / E quando isso Acontece / A Alegria vai embora... / E as Cordas de Aço de um violão / Solam baixinho / Uma canção que se chama Disfarça e Chora / Eu confesso que / Tive Sim, um Amor Proibido / Vai, amigo e diz-lhe / O quanto tenho sofrido / Mas tudo se ajustará / Numa grande Alvorada / O Sol Nascerá / Pouco importa depois / Só estaremos juntos Nós Dois / O nosso amor brilhará / Numa noite tão linda / As rosas não Falam / Mas podem enfeitar / A grande Festa da Vinda...
Os compositores, emocionados, se calaram. Realmente, o velho Sargento se superara.
Àquela altura do campeonato, o feijão e o chope tinham propiciado o clima perfeito para que cada um se sentisse flutuando.
E foi aí que, olhando o luar filtrado pelas nuvens pesadas, lembrando o amigo morto, o poeta pintor de telas e paredes, Nelson Matos, codinome Sargento e marechal honorário nas brigadas do samba, abriu a boca de raros e maltratados dentes, pronunciando, talvez sem saber, o verso mais bonito da noite:
- Cartola não existiu. Foi um sonho que a gente teve...
Texto inspirado e adaptado do livro Cartola, os tempos idos, de Marília Trindade Barboza e Arthur de Oliveira Filho.
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