terça-feira, 11 de agosto de 2009

O elogio da ignorância


Não é de hoje que se vê, em várias partes do mundo, aquilo que se chama de “elogio da ignorância”. Trata-se da apologia, por princípio, de tudo aquilo que pode ser avesso a: conhecimento, leitura, estudo, reflexão, discussão etc.

É tudo coisa de “intelequitual”.

Há uma clara inversão de valores: bom mesmo é não estudar, não ler, não pensar, não debater...

Essa conversa é batida e antiga. Mas tenho a impressão que, de uns tempos pra cá, o elogio da ignorância se tornou mais frequente entre nós.

Em meio a outros fatores, há a oposição (às vezes falsa) criada entre os nossos dois últimos presidentes: o “professor” FHC e o “operário” Lula. Alguns méritos deste são por vezes atribuídos ao seu “saber-fazer” adquirido no dia-a-dia da fábrica (?) e, ao mesmo tempo, contrapostos a certa “ineficiência” daquele, derivada de sua vivência intelectual, alienada e distante do “mundo real”.

Mas isso é outro papo...

Na verdade, o que me incomodou mais recentemente foi o comportamento de uma guia de turismo que conheci em Fortaleza há alguns dias. Não que exista algum comportamento de guia turístico que me agrade, mas...

Bastante simpática, a moça nos contou a vida do Patativa do Assaré. Mais do que sua obra ou a força de sua figura para os cearenses, interessou à Bibi (o nome da guia) ressaltar que Patativa jamais estudara. Não se tratava de uma informação biográfica, mas, estranhamente, de um mérito do poeta.

O tom não era do tipo: “Apesar de não ter podido estudar, o Patativa do Assaré se tornou um dos maiores ícones da cultura...”. Não! Era algo como: “ele não estudou e fez o que fez, enquanto um monte de gente que estuda não tem tal capacidade”.

O que ela quis dizer?

Fiquei imaginando uma criança ouvindo a sua exposição e as seguidas vezes em que ela opôs a genialidade daquele artista à educação formal, como se esta sufocasse aquela ou como se se tratassem de coisas antagônicas.

Posso estar enganado, mas tenho a impressão que a ausência de educação formal, de alfabetização, por si só, não pode ser transformada em virtude, mesmo diante das nossas tão criticadas escolas. Não sei que mal à genialidade pode fazer a alfabetização, o estudo e os conhecimentos construídos nas salas de aula.

3 comentários:

Adriana disse...

Mais uma prova das trocas de valores... um exemplo na minha carreira....a pessoa paga 60 reais em um banho mas não percebe a necessidade de uma vacinação...
e ainda tenho q ouvir q vira lata não pega doença...
as pessoas precisam estudar mais, ler mais...e ter melhores exemplos de vida... cultura e estudo nunca é o suficiente sempre temos q nos informar e nos atualizar...triste daqueles q seguem os pessimos exemplos...

Naty disse...

É mais fácil controlar pessoas sem informação.
Quem tem informação tem poder.

fabio disse...

Difícil situação! Dependendo do ambiente em que estamos somos condenados por ler, por saber de determinado assunto... o legal é não saber nada ou fingir que sabe de tudo!!!