terça-feira, 3 de julho de 2007

Cidade limpa e escura...

A cidade não tem mais o mesmo brilho...



O recente projeto da Lei Cidade Limpa que limita a publicidade na capital paulista tem sido apresentado como uma redescoberta da cidade. Fachadas, estilos arquitetônicos, detalhes que se escondiam debaixo das imensas placas de propaganda estão visíveis.

O combate à poluição visual, no entanto, tem revelado uma outra face: a cidade está mais escura.

São Paulo nunca teve uma iluminação decente. Mas, com a "cidade limpa" percebemos que há um déficit ainda maior de luzes em suas ruas. Antes, com anúncios gigantescos que recebiam iluminação direta, a cidade parecia mais viva.

Hoje, percorrendo suas ruas e avenidas, parece que revivemos o tempo do apagão elétrico ou que estamos em uma cidade interiorana. A nostalgia que se seguiu à redescoberta das fachadas agora é acompanhada de um traço melancólico de uma cidade que parece menor ou menos pujante.

É evidente que não estou defendendo a poluição visual. Mas uma cidade às escuras também é deprimente.

Não combina com o olhar do interiorano que via nos brilhos da noite paulistana a sedução e os riscos de uma metrópole.

7 comentários:

Anônimo disse...

José Alves,
muito interessante sua observação e principalmente seu desejo de apreensão da cidade...desejo de olhar para a cidade. Certamente (isso é o que desejamos) uma reestruturação do projeto de iluminação urbana será defindo pelo poder público. Permita-me apenas uma observação crítica (no melhor sentido dos termos) ao seu argumento, especialmente a última parte do texto:
"Não combina com o olhar do interiorano que via nos brilhos da noite paulistana a sedução e os riscos de uma metrópole".
Fico sempre me perguntando sobre os motivo de tamanha "paulicentricidade" dos moradores de São Paulo, em sua maioria absoluta "ex-interioranos. Existe na sua observância a construção da noção de negatividade pautada no deslumbramento (im)palpável por aqueles cujas experiências anteiores geram aquela imagem de risco (muito comumente identificada ao perigo) ao adentram na cidade grande.
São Paulo ultrapassa essa dualidade entre aqueles que são os moradores da metrópole e os moradores do interior, por um único motivo. Ele gera sedução em qualquer olhar que como o seu é aberto à experienciação do ambiente urbano. Talvez o interiorano até tenha muito mais possibilidade de construção da experiência, pois, justamente marcada pelo extremo estranhamento que a cidade lhe propocriona a cada movimento do seu corpo e do seu olhar. O paulistano já perdeu a noção do estranhamento pela absoluta sobreposição de informações que no mais das vezes repelem seu olhar para as sutililezas dos detalhes. Sutilez que ficou evidente em seu texto, em sua experienciação, em seu estranhamento.
abraço grande....mas não fica bravo tá. rs
Rodrigo Faria

Anônimo disse...

Existe a palavra "experienciação"?..é escrita com "c" e "ç" ou "c e "s"..fiquei na dúvida.

Anônimo disse...

zé alves,
que surpresa a minha ao visitar seu blog pela primeira vez e ler um texto desses, opinião muito parecida com a minha, já legítimo paulistano da gema e fico muito triste ao ver minha São Paulo tão triste, pelo menos para mim, agora.
Acho que a cidade perdeu muito de sua atração, de sua "metropolidade" (não se isso existe ou se é o certo, mas você me entendeu), a beleza de São Paulo na minha opinião vem do caos em que ela se constitui. Não sou defensor da poluição visual, mas se tratando de São Paulo ela dava um toque a mais na cidade, realmente mais atraente para os olhos, principalmente dos que nunca foram ou pouco vão a cidade.
Parabéns pelo blog, e fico realmente feliz com seu texto...
abraços

Zé Alves disse...

Rodrigo: obrigado pelos comentários. Não me irrito com a discordância, pelo contrário, acho que explicita coisas que nem sempre identificamos nesta cidade impactante. Acho que não sou ingênuo em relação a ela, que foi ressignificada por minha experiência nela!
Acho que este é o traço do cometário do Caio, que nos aproxima por filiação ou adoção no sentimento acerca desta cidade que sofre com intervenções estranhas e "imperiais" de sucessivos governos e poderes.
Obrigado aos 2.

Anônimo disse...

José...
o principal está ocorrendo...um diálogo!...mesmo que nessas instâncias informacionais..que aliás eu adoro.
abraço, Rodrigo

Raquel Sallum disse...

Concordo com o seu comentário sobre a cidade, realmente está mais escura. Existe a sua importância do projeto em limitar poluição visual, mas acredito que deveria ter limites para anúncios e não a exclusão total.
O brilho da cidade que não dorme, não pode ficar sem suas luzes de glamour!

Anônimo disse...

A tristeza que você percebe na cidade deve ser mais pela sujeira e poluição do que pela poluição luminosa. O céu paulistano tem pouquíssimas estrelas por conta de todas as poluições, inclusive o excesso de luz noturna ou pior ainda, luz direcionada para o alto que só diminui o contraste com o belíssimo céu estrelado.