terça-feira, 3 de julho de 2007

A culpa é do urubu

Li, com algum espanto, duas notícias que foram publicadas hoje nos jornais, mas que, desde ontem, estavam aparecendo nos sangrentos programas vespertinos de TV.

Eu estava custando a acreditar que eram verdadeiras.

A primeira dava conta de um PM que matou o próprio filho, em João Pessoa. O policial ouviu um barulho na porta enquanto dormia e, desconfiado, pegou o revólver para ‘se proteger’. Como estavam insistindo na maçaneta e ninguém respondia, o PM atirou. Era o próprio filho que chegava de uma festa.

A notícia é assustadora em si mesma, no drama da própria história narrada, já que a conclusão que ela permite, sobre o estado de insegurança e medo em que vivemos, é de outros carnavais. Pode-se até supor certa neurose nesse caso, típica de militares, que não seria estranho. Porém, depois dos rapazes do RJ...

Já a outra matéria dizia: ‘Piloto perde o olho após urubu bater em avião’. Como assim? Pensei que fosse brincadeira do Datena, mas era verdade mesmo!

E não é que o chefe do 4º. Seripa (Serviço Regional de Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), Wagner Cyrillo Júnior, disse que é preciso evitar os lixões para que abalroamentos, como esse, não aconteçam mais?

Sim, é preciso evitar lixões, mas não por conta dos urubus que estilhaçam vidros e ‘fazem os pilotos perder a vista’. Foi um incidente que, como a própria definição sugere, não deve ser jogado nos ‘ombros’ dos urubus. O urubu simplesmente sobreveio.

5 comentários:

Raquel Sallum disse...

A tragédia se tornou cômica, a cena do policial que mata o filho no evetual acaso.E o urubu que bate no avião enquanto o piloto perde o olho, isso é ilário! O acaso sempre posto as mais diversas cituações. O sofrimento de uns torna-se risível diante do nosso cotidiano massante de notícias trágicas.
"Meu lema é sorrir, mesmo que incabível para uns"

Anônimo disse...

O que diria Jorge Mautner e o seu KAOS com K sobre cada evento como os que José Alves relatou?
Todo dia eu acordo (seria esse um caso de pleonasmo?) com a mesma pergunta: quando será que acordaremos?
Sempre acordados (dizem que São Paulo não dorme...Brasília já nasceu acordada) estão os (nossos?)políticos prontos a bravatar, como o que ontem falava de uma "crise inventada" no Senado; como nós ainda não acordamos somos os responsáveis pelos pesadelos dos "bois que pagam a amante", das "pontes sobre rios secos", dos "urubus que adentram as aeronaves", entre outros..aliás, impossível não estabelecer paralelo, ou seria uma tangencial?: Os Urubus, assim como os estudantes universitários paulista, regiram e invadiram, ocuparam e de alguma forma transformaram. Urubu e Universitários serão obviamente culpados pelos erros que estão a priori, ou seja, os erros dos que nunca dormem e dos que nunca acordam.
Raquel..sou mais pessimista; gosto muita do verso "vou ser feliz e já volto"(Paulo Miklos)...felicidade instantânea, pois elimina o risco de continuar dormindo.

Anônimo disse...

Anderson,
agora que percebi ser você o autor do relato. desculpas!
abraço,
Rodrigo

Anônimo disse...

Rodrigo: sem problema. O importante é o comentário, a discussão! Abraços.

Raquel Sallum disse...

Rodrigo Faria, sou mais otimista, apesar da situação brasileira não ser das melhores... e vou buscar ler o verso que indicou. A felicidade instantânea, talvez seja essa a idéia, do sorrir da tragédia.Existe dois pontos:O trágico e o cômico. O trágico, momento de reflexão sobre a tragédia.E o cômico, a imagem que monta das contradições. Daí a idéia das charges como crítica social e risível.