sábado, 8 de dezembro de 2007

O milho, o cheiro e as lembranças

por Marcus Vinícius de Morais (direto da Cidade do México)


O cheiro é memória. Ele nos remete para lugares e situações distantes. O cheiro nos desperta o poder da imaginação que, sozinho, pode fazer mágicas. O imaginar tem poderes sobrenaturais; podemos sentir a pessoa distante, rever os lugares amados e, num segundo, a imaginação nos faz estar onde nunca pensaríamos poder ir.

Longe de casa muitas coisas são diferentes. E para as diferenças estamos sempre atentos. As pessoas estão atentas aos costumes, aos hábitos, às roupas, mas nessa viagem percebi a importância do cheiro. Ele também muda; aqui temos outros odores, outras sensações e, nesse caso, outras lembranças e recordações. As ruas cheiram a tortillas, tacos, totopos e qualquer coisa que se possa fazer com milho.

De manhã, de tarde, de madrugada, dormindo, o dia todo, as tortillas nos perseguem. Elas empesteiam o ar, as cidades e, assim, ao voltar ao Brasil o milho não será apenas o milho. Ele será o México, as situações e todas as recordações indissociáveis dessa viagem que ele carrega. O milho, agora, e o seu cheiro se transformaram em símbolo e, assim, em memória.

Mas a verdadeira mágica dos sentidos ocorreu em outras situações. Num piscar de olhos eu viajei e, por um instante descontrolado no tempo, eu voltei ao Brasil, regressei à minha infância. Eu me vi menino, na frente da loja de pães em Santos, esperando o pão doce sair do forno. E foi o cheiro que me permitiu isso.

Ao andar pela rua, essa semana, aqui no México, senti um excelente cheiro. Bom cheiro é aquele que a gente conhece. Olhei para o lado. Foi instantâneo; pães doces saindo do forno me levaram de volta aos tempos de brincadeiras na praia. Mas logo em seguida uma senhorinha mexicana passou bem perto de mim. Ela tinha um cheiro familiar, muito forte. E dela também me surgiram lembranças, de uma pessoa querida, escondida e distante na memória. O cheiro tem força e nos faz viajar, muito além do espaço e do tempo.

2 comentários:

Fernanda disse...

De fato, a memória olfativa é uma das que são mais relevantes.
Essa é uma memória que mexe com muitos outros sentidos, ao se lembrar do cheiro de uma pessoa muitas memórias podem aparecer na nossa mente.

Anônimo disse...

"O bom cheiro é aquele que a gente conhece"... aquilo que sempre toca, sempre sensibiliza, sempre impreciona os sentidos!