terça-feira, 11 de dezembro de 2007

O som da praça

Por Raquel Vito
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Fim de tarde, ao longe os acordes da música envolve o ambiente e percorre o lugar. Sutilmente torna-se companheira e o convida à diversão. Num clima descontraído, o som instrumental mistura-se a conversa informal. As notas inconfundíveis agradam os que passam pelo local. Entre um gole de cerveja e uma água de coco, é irresistível não se deliciar com um bolinho de bacalhau, experimentar o caldo de feijão, a comida baiana e árabe aproveitando o que a gastronomia oferece. A culinária é uma combinação perfeita para desfrutar e curtir o chorinho.

Ponto de referência cultural a Feira de Artes, Cultura e Lazer da Praça Benedito Calixto é reconhecida internacionalmente como uma das melhores feiras de antiguidades e artesanatos. Localizado entre as ruas Cardeal Arcoverde e Teodoro Sampaio, em Pinheiros, o evento faz parte do calendário turístico e cultural de São Paulo.

Há 18 anos o grupo Canário toca um vasto repertório dos anos 30. As pessoas participam constantemente. Os amantes do choro cantam juntos enquanto outros arriscam, muitas vezes timidamente, passos de dança e acompanham o ritmo entre um batuque na mesa, interagindo com o grupo. José Correia, 77 anos é o mais novo no grupo. Há um ano toca pandeiro e se apresenta com o nome artístico de Zezinho Guarani. Músico profissional, já tocou com grandes compositores como Pixinguinha, Folhares, Waldir Azevedo, entre outros.

Considerada música de boêmio, o choro nasceu no Rio de Janeiro no começo do século e era mal visto pela sociedade. Os que seguiam o gênero musical eram considerados malandros. Vivendo da informalidade os músicos reuniam-se em diferentes lugares para promover os saraus, Noel Rosa, Chiquinha Gonzaga, Pixinguinha faziam parte da nata do choro. “A apresentação de um conjunto regional é composta por violão de sete cordas, violão de seis cordas, cavaquinho e pandeiro. Esses são os instrumentos considerados clássicos do choro”, explica Zezinho. “A flauta, o clarinete, o bandolim podem entrar como complemento para fazer o solo”, diz.

A feira é realizada todos os sábados das 9h às 19h e existe há 20 anos. Cada peça tem um significado, uma identidade, um valor. Quem busca por raridades está disposto a pagar o quanto for para ter o objeto desejado. Entre os 320 expositores é possível comprar e vender diversas peças. Encontra-se de tudo... discos, livros, relógios, pratarias, brinquedos, roupas... uma verdadeira viagem ao passado que se confunde com histórias pessoais.

Clássicos como Carinhoso, Rosas, Lamentos e Ingênuos fazem sucesso entre as pessoas e não passam despercebidos. “Muitos artistas da época eram autodidatas, tinham uma grande capacidade intuitiva e um talento nato, isso é dom”, conta Zezinho. Grande parte dos que admiram a roda de choro, hoje, são jovens. A música nostálgica é um convite a todos que apreciam o gênero.

A variedade de objetos chama a atenção de todos. Uma oportunidade de passeio para ser feito em família ou com os amigos. A mistura de gerações é uma característica do choro. Não há limites nem barreiras, todos são bem vindos. “O chorinho é um artesanato da MPB”, conclui Zezinho.

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