Ao andar pela Cidade do México é possível ver – esquina sim, esquina não – cartazes, faixas ou pichações com a frase: “Estamos com você, AMLO”. Para os que não têm muita familiaridade com a política mexicana, a frase soa estranha. Depois de olhar as letras com calma, descobre-se que AMLO são as iniciais de Andrés Manuel López Obrador, candidato à presidência da República nas últimas eleições, em 2006.
Além do discurso messiânico e do apelo popular dos quais se revestem as falas de Obrador, há um outro fator que impulsiona sua imagem entre os mexicanos: o impopular e inábil governo de Felipe Calderón.
Em seu primeiro ano, a administração do presidente Calderón foi desastrosa, sobretudo no que se refere às altas dos produtos básicos, à brusca diminuição do crescimento econômico (se tomado em comparação aos demais países latino-americanos, como Argentina e Venezuela), às propostas de reformas judiciais e aos possíveis acordos com os EUA.
Ainda assim, López Obrador tem sido duramente criticado pela imprensa local, inclusive por veículos e articulistas que se auto-denominam “de esquerda”. Bastam duas semanas no México e algumas olhadas nos jornais locais para entender por quê.
O racha na esquerda e a ausência de negociação
AMLO optou, desde junho de 2006, por fazer uma ferrenha oposição ao governo de Felipe Calderón, inclusive imputando-lhe ilegitimidade – tendo em vista a pequena diferença de votos entre os dois candidatos (200 mil votos) no último pleito e a suspeita de fraude eleitoral.
A oposição a Calderón é legítima e esperada. Onde está, entretanto, o erro de AMLO? Obrador erra ao não negociar, princípio básico e necessário da política. A sua oposição é daquela burra e radical, onde não se admitem cessões ou diálogos. Embora desastroso, o atual governo – até onde se sabe – não tem sufocado a oposição, nem explicitamente nem com artimanhas políticas.
Os críticos mexicanos, partindo do pressuposto de que a esquerda latino-americana se divide em duas – aquela à Chávez e aquela outra à Bachelet e à Lula –, são enfáticos ao apontar as semelhanças entre AMLO e o presidente venezuelano. Isso, aqui, é sinônimo de perigo, já que com isso Obrador torna explícita a sua distância em relação a governos mais moderados e menos personalistas e autoritários.
As eleições no PRD
No interior do próprio PRD (Partido da Revolução Democrática), AMLO tem perdido espaço e sofrido críticas. O principal ataque a Andrés Manuel advém de sua "ligação" com propostas ideológicas e políticas vinculadas à antiga URSS, inclusive com “menções honrosas” a Stálin em seus discursos.
Com freqüência, López Obrador solta a plenos pulmões em debates ou em declarações públicas: “Yo soy partidario de lo que decía Melchor Ocampo: los moderados no son más que conservadores más despiertos”. Ou seja: a opção política de AMLO não pressupõe moderação que, no seu vocabulário, significa conservadorismo.
No próximo dia 16 de março, o PRD realizará eleições para definir a nova cúpula do partido. O candidato de AMLO, Alejandro Encinas, enfrentará Jesús Ortega, da ala “Nueva Izquierda”, cuja plataforma propõe um diálogo com o governo e com as reformas propostas por Calderón. Para se ter dimensão do debate interno, Ortega afirma cotidianamente que a atitude de AMLO, de apostar na queda de Calderón ao invés de debater e dialogar, é uma atitude totalitária.
A importância das eleições do PRD está na definição de qual rumo a esquerda mexicana seguirá (pelo menos em teoria), sobretudo visando às eleições de 2012. Caso Encinas ganhe, AMLO volta com tudo ao cenário e com fortes chances de se tornar presidente; caso Ortega vença, restará a Obrador se juntar a partidos menores de extrema esquerda e fazer uma dupla oposição: ao conservador PAN e ao esquerdista PRD.
O caos na esquerda mexicana
Ainda que as eleições no partido ocorram num ambiente tranqüilo e sem falcatruas, o cenário para a esquerda mexicana (para o PRD, principalmente) é um tanto caótico. Caso AMLO saia vitorioso, o principal partido de esquerda fará uma oposição ineficiente a Calderón, tornando a política local instável, diante de um cenário externo bastante propício e estável - de acordo com as otimistas previsões para 2008. Caso Obrador perca e se associe a partidos menores, ele promete fazer barulho e desestabilizar, também, o PRD, o que é bastante provável se considerarmos a força que AMLO tem junto a grande parcela da população.
Logo, faço minhas as palavras do articulista do jornal Excelsior, Martín Moreno: é uma desgraça que um país como o México, com 20 milhões de pessoas vivendo em pobreza extrema, não tenha um partido de esquerda forte, consolidado e confiável!
Além do discurso messiânico e do apelo popular dos quais se revestem as falas de Obrador, há um outro fator que impulsiona sua imagem entre os mexicanos: o impopular e inábil governo de Felipe Calderón.
Em seu primeiro ano, a administração do presidente Calderón foi desastrosa, sobretudo no que se refere às altas dos produtos básicos, à brusca diminuição do crescimento econômico (se tomado em comparação aos demais países latino-americanos, como Argentina e Venezuela), às propostas de reformas judiciais e aos possíveis acordos com os EUA.
Ainda assim, López Obrador tem sido duramente criticado pela imprensa local, inclusive por veículos e articulistas que se auto-denominam “de esquerda”. Bastam duas semanas no México e algumas olhadas nos jornais locais para entender por quê.
O racha na esquerda e a ausência de negociação
AMLO optou, desde junho de 2006, por fazer uma ferrenha oposição ao governo de Felipe Calderón, inclusive imputando-lhe ilegitimidade – tendo em vista a pequena diferença de votos entre os dois candidatos (200 mil votos) no último pleito e a suspeita de fraude eleitoral.
A oposição a Calderón é legítima e esperada. Onde está, entretanto, o erro de AMLO? Obrador erra ao não negociar, princípio básico e necessário da política. A sua oposição é daquela burra e radical, onde não se admitem cessões ou diálogos. Embora desastroso, o atual governo – até onde se sabe – não tem sufocado a oposição, nem explicitamente nem com artimanhas políticas.
Os críticos mexicanos, partindo do pressuposto de que a esquerda latino-americana se divide em duas – aquela à Chávez e aquela outra à Bachelet e à Lula –, são enfáticos ao apontar as semelhanças entre AMLO e o presidente venezuelano. Isso, aqui, é sinônimo de perigo, já que com isso Obrador torna explícita a sua distância em relação a governos mais moderados e menos personalistas e autoritários.
As eleições no PRD
No interior do próprio PRD (Partido da Revolução Democrática), AMLO tem perdido espaço e sofrido críticas. O principal ataque a Andrés Manuel advém de sua "ligação" com propostas ideológicas e políticas vinculadas à antiga URSS, inclusive com “menções honrosas” a Stálin em seus discursos.
Com freqüência, López Obrador solta a plenos pulmões em debates ou em declarações públicas: “Yo soy partidario de lo que decía Melchor Ocampo: los moderados no son más que conservadores más despiertos”. Ou seja: a opção política de AMLO não pressupõe moderação que, no seu vocabulário, significa conservadorismo.
No próximo dia 16 de março, o PRD realizará eleições para definir a nova cúpula do partido. O candidato de AMLO, Alejandro Encinas, enfrentará Jesús Ortega, da ala “Nueva Izquierda”, cuja plataforma propõe um diálogo com o governo e com as reformas propostas por Calderón. Para se ter dimensão do debate interno, Ortega afirma cotidianamente que a atitude de AMLO, de apostar na queda de Calderón ao invés de debater e dialogar, é uma atitude totalitária.
A importância das eleições do PRD está na definição de qual rumo a esquerda mexicana seguirá (pelo menos em teoria), sobretudo visando às eleições de 2012. Caso Encinas ganhe, AMLO volta com tudo ao cenário e com fortes chances de se tornar presidente; caso Ortega vença, restará a Obrador se juntar a partidos menores de extrema esquerda e fazer uma dupla oposição: ao conservador PAN e ao esquerdista PRD.
O caos na esquerda mexicana
Ainda que as eleições no partido ocorram num ambiente tranqüilo e sem falcatruas, o cenário para a esquerda mexicana (para o PRD, principalmente) é um tanto caótico. Caso AMLO saia vitorioso, o principal partido de esquerda fará uma oposição ineficiente a Calderón, tornando a política local instável, diante de um cenário externo bastante propício e estável - de acordo com as otimistas previsões para 2008. Caso Obrador perca e se associe a partidos menores, ele promete fazer barulho e desestabilizar, também, o PRD, o que é bastante provável se considerarmos a força que AMLO tem junto a grande parcela da população.
Logo, faço minhas as palavras do articulista do jornal Excelsior, Martín Moreno: é uma desgraça que um país como o México, com 20 milhões de pessoas vivendo em pobreza extrema, não tenha um partido de esquerda forte, consolidado e confiável!
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