terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Zicartola - templo do samba

Por Fábio Almeida

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Lendário bar que foi do mestre Cartola e de sua esposa, a exímia cozinheira Dona Zica, o ZICARTOLA foi inaugurado no final de 1963, incentivado e financiado por amigos do casal, que eram apreciadores das comidas dela e admiradores da música dele. Uniu-se então o útil ao agradável.

O bar ficava num casarão na Rua da Carioca e tornou-se a coqueluche do momento, atraindo diversos músicos, intelectuais, artistas e personalidades da época. Imaginem um bar em que as mesas eram ocupadas por Vinicius de Morais, Tom Jobim, Chico Buarque, Nara Leão, Ferreira Gullar, Sérgio Porto, Hermínio Bello de Carvalho, Clementina de Jesus e Pixinguinha. Imaginem as conversas, as discussões, os porres e a farra que essas figuras protagonizavam.

A direção musical da casa ficava por conta de Zé Ketti e entre os músicos que se apresentavam, além do próprio Cartola, estavam Nelson Cavaquinho, Nelson Sargento, Paulinho da Viola, Elton Medeiros entre outros. O que não saía dessas rodas de samba! E quantos clássicos não foram apresentados pela primeira vez nessas noites.

Apesar do sucesso e da casa ficar lotada praticamente todos os dias, e mesmo sendo Cartola um gênio da música, não se podia dizer o mesmo quanto à administração do negócio e segundo palavras do próprio: “O trabalho era muito, abríamos as oito e íamos até ás seis da manhã, só tinha descanso de segunda-feira, tinha que andar com um palito nos olhos” – extraído do Programa Ensaio, exibido pela TV Cultura. Além disso, muitas pessoas abusavam da inocência de Cartola, consumiam, penduravam a conta e nunca mais apareciam. O casal se desfez do negócio a preço de banana e contraíram dívida no banco para pagar os funcionários. Em entrevista ao Ensaio, Dona Zica disse: “Não ganhamos dinheiro, mas ganhamos amigos que nos acompanham até hoje. Isso é que é importante!”.

O negócio durou somente 20 meses, porém o suficiente para entrar para a história da música e da boemia carioca, além de ter sido a primeira casa realmente de samba do Rio de Janeiro, foi também um importante movimento cultural, impulsionando outros tantos a partir dali.

Desenho de Heitor dos Prazeres feito para o cardápio do bar

3 comentários:

Raquel Sallum disse...

Muito bom recordar. No filme do Cartola mostra este bar e alguns comentários do próprio Cartola sobre.O samba se popularizando, mas uma pena que estes cantores como Belo, pode se dizer do samba é até uma ofensa com as raízes.
Abraços,

Raquel

Fernanda disse...

De fato devia ser fantástico encontrar com estes nomes, numa mesa de bar, batendo um papo, falando de música e sempre tomando um porre!E..ênfase à isso!rs

Concordo com a Raquel, esses cantores, como Belo, ofendem o samba. mas...

Anônimo disse...

Infelizmente esses caras que fizeram parte do "padode romãntico" ficaram colados ao nome do samba, mas eles passaram e o samba, que é parte da nossa cultura, vai continuar ... tem um samba do Nelson Sargentoque diz "Samba agoniza mas não morre / alguém sempre te socorre antes do suspiro derradeiro ..."