sexta-feira, 11 de julho de 2008

Bossa oca

A editoria do Conta-Gotas foi convidada com exclusividade para visitar, numa quase “avant-première”, a exposição Bossa na Oca, comemorativa do cinqüentenário do “bossanovismo”!

Pois muito bem, lá fomos nós até o Ibirapuera.

A sinopse da organização espacial da exposição é a seguinte: ela se espalha por quatro pavimentos dedicados a contar a história da Bossa Nova – intercalando eventos políticos, sociais, culturais e inúteis (já explico), a rememorar grandes encontros e a forjar o “ambiente” carioca dos anos 1950!

Para mim, nenhuma dessas partes estava arranjada de modo satisfatório! Muito se falou, na imprensa, a respeito da “calçada de Copacabana”, do fusca e dos vídeos com depoimentos. São itens interessantes, porém acessórios com poucos significados para a compreensão da Bossa Nova.

Por exemplo: no último andar há um grande sofá para você se sentar e apreciar um mar projetado no teto! E? Só porque há citações de mar nas canções ou porque o movimento nasceu à beira da praia, os curadores resolveram colocar um mar no teto?

A parte desastrosa da exposição fica por conta de uma despropositada “linha do tempo” logo no pavimento térreo. Ela é longa (uns 40 minutos para ver todas as explicações) e desconexa; reúne informações interessantes – como as curiosidades relativas aos primeiros expoentes bossanovistas – ao lado de outras descabidas – como a data da inauguração do Estádio do Morumbi – dando a falsa impressão de uma “contextualização”!

Na verdade, a linha do tempo é uma “colagem” mal feita do livro “Chega de Saudade”, de Ruy Castro, com alguns dados perfeitamente dispensáveis. Ora a linha do tempo trata o visitante como uma criança de 7 anos (ao informar que em 1964 o Brasil passou a ser governado por militares) e ora exige do mesmo público conhecimentos prévios (como ao enfatizar a aprovação do Estatuto da Terra, em 1963).

Tudo isso, para os curadores, tem relação com a Bossa Nova! O problema é descobrir, diante daquela mixórdia de fotos e letras miúdas, o sentido da exposição, do tempo, da história, e as relações imaginadas pelos organizadores.

Isso para não falar da parte “escura” da exposição! Sim, havia alguns painéis que ficaram no escuro, sem iluminação: isso é coisa de amador. Só era possível enxergá-los ao se aproximar bastante: tinha uma foto do Pelé e alguns outros, dos quais não me recordo agora.

As partes menos ruins estão no “sub-solo”, com algumas projeções e um show holográfico, e no segundo andar, com salas reservadas a Vinícius de Moraes, Tom Jobim, João Gilberto e à Turma da Bossa. Ainda assim, no caso do Vinícius, foram usados trechos do documentário produzido a seu respeito pelo Miguel Farias Jr., o que diminuiu o “caráter inédito” daquele espaço!

Além disso, o preço: 20 mangos (à exceção das terças-feiras) para ver a Bossa na Oca é muita grana!

Sem querer puxar a sardinha, mas o trabalho de um historiador teria melhorado um tiquinho a exposição. Tudo bem, se isso é exigir muito, talvez pudéssemos ter pedido um pouco menos de “pressa” no arremate, o que teria dado mais substância à exposição. Do jeito que tá, a exposição deixou a Bossa Nova oca!

2 comentários:

Fábio Almeida disse...

Sem contar que a exposição mais parece um comercial gigante do Banco Itaú!

Faltou muita coisa...

Fernanda disse...

Sábado passado, no SPTV, vi uma reportagem sobre a exposição, o que me despertou um grande interesse!

Pretendo ir a exposição, e aí digo o que achei.