domingo, 24 de agosto de 2008

Fracasso? Nem tanto...


A campanha brasileira nos Jogos de Pequim está sob análise. Alguns lugares comuns começam a se repetir e, da euforia inicial, chegamos à constatação de uma catástrofe, da amarelada etc.

Não me parece que a campanha brasileira tenha sido ruim. Nos jogos em que 87 países foram premiados ficamos em 23º. Poderia ser melhor? Claro que sim, sempre se pode. Mas quero que comparemos alguns aspectos e entre países com estrutura semelhante ao nosso.

1) Ficamos em 3º nas Américas. À frente de Cuba, um país tradicionalíssimo e que sente os reflexos das crises dos últimos anos. Sei que a velocidade da deterioração cubana é maior do que o do salto brasileiro;

2) Se compararmos com México, vizinhos dos EUA e com PIB mais próximo do nosso, tivemos um empenho satisfatório. Desnecessário falar da Argentina;

3) Se pensarmos em países que foram sede de jogos recentes como Espanha ou Grécia, e que portanto tiveram grande incentivos para montarem suas equipes e desenvolverem seu desporto, não ficamos tão distantes dos espanhóis e muito à frente dos gregos.

Agora podemos analisar alguns mitos:

1) Não há apoio ao esporte no Brasil. Os incentivos fiscais saem da renúncia fiscal. Pela primeira vez tivemos um ciclo completo de preparação. Não é o ideal, mas a profissionalização está chegando;

2) Os nadadores não têm estrutura no país. Palavras de César Cielo: há estrutura e bons técnicos, o que não existe são as competições com bom nível. Por isso a necessidade de estar nos EUA ou na Austrália. Alguém supõe a presença de nadadores que um dia se tornarão como Phelps para disputar uma prova no Pinheiros? Esta patriotada é tolice, pois equivale a dar prêmios absurdos para que eles venham buscar aqui. Tal como no mundo acadêmico defendo que a internacionalização nos favorece;

3) Os atletas amarelaram. Vitórias e derrotas são comuns a todos os esportes e em todas as nações. O que dizer dos americanos que erraram a passagem do bastão, no feminino e masculino, nas provas de atletismo? A graça do esporte é ver se as expectativas se confirmam. Se fosse o contrário, tal como nas eleições, não necessitaria haver disputa. Penso que falta maior envergadura a muitos deles, mas a inserção do país acontece paulatinamente. E não é apenas o Brasil que se aperfeiçoa, outros também. O que dizer do crescimento astronômico da China?

Por tudo isso, penso que a campanha brasileira foi dentro do que se esperava. Alguns esportes, como o futebol e o vôlei masculinos poderiam ter resultados melhores.

PêEsse 1: o que mais me incomodou em todos os Jogos foi o silêncio sepulcral da mídia diante de uma ditadura que censura, viola direitos humanos etc. A suntuosidade das construções e organização foram vistos apenas como eficiência.

PêEsse 2
: internamente, o boa gente José Roberto Guimarães deve ter dado um ligeiro sorriso de satisfação no duelo entre os dois técnicos mais vitoriosos do vôlei. Jamais admitirá, mas posso supor. Ricardinho também deve ter tido um sentimento contraditório.

PêEsse 3
: sem disfarçar se alegraram os críticos de Dunga, Teixeira e a patotada da CBF.

9 comentários:

Anônimo disse...

ive done something here to have you a few cents!

Anônimo disse...

Bem colocado Zé. Olhando friamente os números totais, o desempenho do Brasil foi mais ou menos o esperado.
Aliás, a previsão de um estudo de Economia, com base no PIB e na população do países, era que o Brasil estaria em vigésimo lugar com 11 medalhas no total. Veja no meu blog. O desempenho, neste sentido, foi acima do esperado pois conquistamos 15 medalhas e ficamos em décimo sétimo. Talvez a frustração tenha sido as medalhas de ouro esperadas.

DERLY. disse...

gostei da sua análise,bem fria e den
tro da realidade,sem pixotadas,valeu.

ronaldo derly

Anônimo disse...

Sinceramente, mediante a falta de investimento de esporte que temos no Brasil, eles fizeram mais até do que deveriam. Salvo o vôlei masculino que chegou muito "mala" e ficou com a prata.

Anônimo disse...

Zé, sua análise é perfeita. Mas de qualquer forma não é porque ficamos à frente de Cuba, Argentina, Grécia... que os atletas devam se contentar. É nítido que com um pouco mais de organização e boa vontade, podemos ter um desempenho muito melhor na próxima olimpíada.
A cobrança em cima de quem teve apoio tem que existir.

Zé Alves disse...

Fábio: não estou defendendo que não se cobre. Mas que tenhamos o bom senso de considerar os resultados em um contexto mais amplo. Observe que nossos entraves para "ouros" garantidos estiveram com uma única delegação: a dos EUA. Perdemos no fut fem; nos vôleis de praia e no vôlei do Bernardinho. Se tivéssemos obtidos dois destes ouros viveríamos a euforia da potência olímpica nascente etc. Idéia tão falsa quanto a da catástrofe.
Quando citei Grécia e Espanha era para pensar no fato de que organizaram os Jogos há pouco tempo e os resultados deles deveriam ser muito melhores que os nossos, ainda na esteira dos altos investimentos de um país quando se torna sede. Quem, neste sentido, alavancou no quadro foi a Coréia do Sul.

Anônimo disse...

Zé, eu não discordo de você. E essa coisa da "potência olímpica nascente" é perfeita. A mídia está sempre atrás de novos heróis e novas utopias.

Anônimo disse...

Zé, eu não discordo de você. E essa coisa da "potência olímpica nascente" é perfeita. A mídia está sempre atrás de novos heróis e novas utopias.

Anônimo disse...

ganhamos 5 ouros em Atenas e 3 na China, em 4 anos não dava para melhorar