quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Parem as máquinas 2

Ia responder mais uma vez ao texto do Kalil, mas decidi inserir um post na mesma linha do comentário anterior.

Penso que outra coisa interessante sobre os jornais é como a política ainda é o eixo central das análises e os periódicos estão excessivamente alinhados a favor ou contra qualquer coisa. Falo da política, pois na economia já há algum tempo que não existe mesmo qualquer forma de divergência. Não que concorde, mas é uma constatação.

O que representa este alinhamento no campo da política? A simplificação de escolhas e a repetição de slogans na profundidade de um pires.

E isso ocorre não apenas no Brasil. Mas imaginemos se as enchentes de SP fossem com outro governante? Quais seriam as manchetes?

Veja o que está acontecendo com o tal Plano dos Direitos Humanos: a despeito da balbúrdia provocada pelo próprio governo, as linhas editoriais só nos faltam pedir para que façamos um verdadeiro movimento de desagravo às Forças Armadas. Parece que chegará o dia em que teremos que agradecer ao Exército por não permitir a abertura dos documentos sobre a ditadura, pois isso evita o revanchismo.

Ou ainda, solicitar à Katia Abreu, a senadora do agronegócio, que defina o que é ideologia e nos ensine como fazer com as temáticas relacionadas a movimentos do campo.

Não digo que estes temas não devam ser debatidos, mas são tomados a priori como motes para desgastar o governo e, com isso, mesmo contrariando o que pensam, passam a reproduzir como se fosse a própria salvação. Por acaso, a descriminalização do aborto não deve ser debatido? A união civil entre pessoas do mesmo sexo? O acesso à memória e ao passado?

Há exageros, sem dúvida, mas num governo que recua sempre depois que a crítica se torna ensurdecedora, estaremos ainda mais distantes de avanços em pontos que outros países já avançaram. E este é o país do futuro que está chegando?

Outro exemplo: Na Argentina, por oposição a CFK, não se questiona a discussão econômica sobre se o governo deveria ou não usar os recursos estocados no BC para evitar o calote, mas apenas o apoio a um tecnocrata e que pode ferir e desestabilizar ainda mais o governo da presidenta.

Mesmo nos EUA, Obama comeu o pão que o diabo amassou por causa de seu projeto sobre a saúde.

Fico por aqui, pensando que os blogs hoje também representam um espaço arejado e mais democrático, mesmo considerando que em muitos deles as pessoas querem eliminar o oponente e não reconhecer a contradição, fundamento básico de qualquer sociedade que se pretenda minimamente aberta e plural.

2 comentários:

Luis disse...

Outra questão sobre os jornais que influi sobre seu futuro é o tipo de informação que os leitores buscam. No dia em que um terremoto destruiu o Haiti, as cinco notícias mais lidas no site da Folha são: Beijo gay no Big Brother; Hebe começa o tratamento; Críticas ao diretor do Big Brother; Marcelo Rezende substitui Adriane Galisteu; e, em quinto, Dominicanos soterrados usam o sms para pedir socorro (detalhe: havia vinte e uma notícias, além da foto principal, na “capa” do site que abordavam o Haiti ou assuntos correlatos, como a biografia de Zilda Arns). Nada contra notícias sobre a TV, mas, se elas são as mais lidas, há um problema nos jornais impressos, que dedicam um espaço muito pequeno, ainda que crescente, a elas.

Nana disse...

Mas quem disse que os jornais querem publicar alguma coisa que informe de fato? No Brasil as únicas pessoas muito bem informadas são os Frias, os Mesquitas e os Marinhos.