quinta-feira, 5 de agosto de 2010

"Friducha"

“Uma fita de cetim enlaçando uma bomba”. Esta frase do pintor surrealista André Breton definiu de forma exata tanto a obra como a personalidade de Magdalena Carmen Frida Kahlo Calderón, ou apenas “Friducha”, como seu pai Guilhermo Kahlo e seu marido Diego Rivera a chamavam.

Meu amor pela obra e vida desta pintora é recente, ele tem um ano mais ou menos, mas foi intenso, principalmente nos últimos meses quando eu fiz um trabalho de conclusão de curso da minha extensão em História da Arte. Gostaria de compartilhar estas informações com meus amigos leitores do CGC e saber a opinião de todos com relação a esta encantadora mulher.

Frida nasceu no dia 7 de julho de 1907 em Coyoacán, já predestinada ao sucesso. Mediante muito esforço e grandes doses de humor atrelado ao sofrimento, ela se tornou um dos maiores símbolos femininos de todos os tempos.

As complicações na saúde de Frida Kahlo começaram já aos 6 anos de idade. A brincalhona e divertida criança se tornou a Frida perna-de-pau, em detrimento de uma poliomielite anterior aguda que deixou uma de suas pernas mais finas. Isso não a derrotou, muito pelo contrário. Sempre foi uma menina estudiosa, de grande audácia e personalidade peculiar.

Aos 13 anos, começa sua trajetória revolucionária e se integra à juventude comunista. Por se identificar com a Revolução Mexicana e com o movimento de reconstrução da identidade do país. Dois anos depois, a adolescente “Friducha” ingressou na Escola Preparatória Nacional a fim de estudar para realizar o sonho que era tanto seu quanto de seu pai: estudar medicina.

Na escola, integrou o grupo “Los Cachucas”, que se reunia para a leitura de livros, dicussões e também para aprontarem com as pessoas do colégio.

Infelizmente, toda a alegria de Frida iria ser testada em 1925. Ao sair da Escola Preparatória Nacional com o namorado, o bonde onde ambos estavam se chocou contra um ônibus. A coluna vertebral de Friducha se partiu em três lugares, um ferro atravessou sua pélvis e entrou do lado esquerdo da vagina, fraturou a clavícula e 2 costelas. Mas foi a partir deste acidente que Frida Kahlo renasce, agora como artista. Após sair do hospital, sua mãe compra um cavalete, instala inúmeros espelhos ao redor dela e, com as tintas de seu pai, Frida começa a pintar. A se pintar. “Quando via a si mesma ela pintava, e pintava porque estava só e porque era o assunto que melhor conhecia”, diz Carlos Fuentes na introdução do Diário da artista. Assim se iniciou a confecção de auto-retratos que perdurou pelos resto de seus dias, atrelados a outras temáticas e características sempre presentes como abortos, seu casamento com Diego Rivera, cores fortes, imagens espontâneas e chocantes, traços do movimento surrealista, entre outras.

Surrealismo que Frida negava, pois ela não pintava sonhos, pintava sua própria realidade, sua própria angústia, sua história. Mas que poderia ser localizado em seus quadros mediante composições e elementos fantásticos.

Frida Kahlo através de uma bela composição de cores sempre vivas pintou seus abortos, suas cirurgias, suas decepções amorosas, seus amigos e colaboradores, seu maior amor, Diego Rivera.

O mesmo Diego foi responsável por imensas alegrias e tristezas incontáveis. Kahlo costumava dizer que teve dois grandes acidentes na vida dela, o bonde e o casamento com Rivera.

Tudo isso porque seu marido, seu amigo, seu ídolo a magoava frequentemente com traições. Até que ele se relacionou com uma das poucas mulheres que não deveria: a irmã mais nova e preferida de Frida, Cristina.

Depois deste fato, a artista se separa de Diego, entra em depressão e quando a pior fase termina, é o momento em que Kahlo se consagra como artista e busca em outros relacionamentos, principalmente nos homossexuais, esquecer a dor que seu “Panzón” lhe provocou. Expôs na França e nos Estados Unidos, mas mesmo assim sempre manteve contato com Rivera.

Em 1936, ocorre um fato que bagunçou mais ainda a vida de Frida Kahlo. Quando seu ex-marido conseguiu o asilo político de León Trotsky, pediu a ela que o abrigasse em sua Casa Azul. Aos 29 anos, com um misto de amadurecimento, beleza, insolência e inteligência, Frida manteve por seis meses um caso com o líder revolucionário soviético, que lhe atraiu por sua reputação de herói, intelecto e caráter.

Mas tanto o destino de Frida como o de Rivera estava interligado. Após anos de separação, glória profissional e relacionamento com homens e mulheres, Kahlo recebe um novo pedido de casamento de seu antigo marido. Em 1940, eles se casam pela segunda vez em San Francisco, e agora com uma condição muito interessante para a relação deles: não poderia haver sexo no casamento.

Assim foi até sua debilitação final. Ela seduzia as amantes que seriam tanto dela quanto de Rivera, além de manter alguns relacionamentos com outros homens.

Mas o compromisso de Kahlo e Rivera ia além do matrimônio. Frida militava em conjunto com seu esposo pelo Partido Comunista, e quando Rivera teve de sair dele, a artista saiu também em solidariedade. Anos depois, foi readmitida, assim como Diego.

A política foi tão presente em sua vida, que sua última aparição em público já depois de ter amputado uma perna, foi em um protesto na Guatemala ao lado de Rivera, em 1954, contra a queda do atual presidente da nação. No mesmo ano, Frida Kahlo morre. A morte que seria, como ela mesmo disse, “uma saída enorme e silenciosa”.

Dica aos amigos leitores é o filme "Frida" (2002), onde a própria é vivenciada por Salma Hayek e Rivera é interpretado por Alfred Molina. Conta com outras participações de peso de Antonio Banderas, Geoffrey Rush e Edward Norton. A obra pende mais ao lado romântico, mas já dá para ter uma boa idéia da história de Frida Kahlo.

Para finalizar:

"Pés, para que os quero, se tenho asas para voar"

Frida Kahlo

9 comentários:

Naty Monteiro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Fábio Vanzo disse...

Ótimo² post, grande história, mas o filme é paia.

Leslie disse...

Não gostei do filme!...mas como faz anos q assisti, seria bom rever e rever meus conceitos...revisão de ideias e posturas.

Leslie disse...

Fábio Vanzo pq o filme é paia??...

Naty disse...

O filme deixa muito de lado o lado profissional e ativista de Frida, em minha opinião. Dá mais lugar ao romance da mesma com Diego Rivera.
Porém, a interpretação de Salma Hayek vale a pena de ser vista, ela consegue transmitir o sofrimenta de Kahlo fazendo com que nos interessemos mais pela vida da mesma.

Pelo menos eu acho!

Anônimo disse...

Concordo Naty! O filme fica muito no romance e poderia ter explorado bem mais o lado político, artístico, os efeitos de um acidente daquele porte em uma pessoa em 1925 e tudo o mais dessa figura humana.

À medida em que o filme avançava a Salma Hayek sumia e dava lugar à Frida..sombrancelhuda!!

Leslie disse...

*Ass: Leslie

Foi postado erroneamente com anônimo.

Edu Zanardi disse...

Olá Naty, tive o prazer de ver ao vivo uma obra de Frida. No MALBA está exposto o quadro "Autorretrato con chango y loro". Muito bonito e emocionante!

Naty Monteiro disse...

Daqui uns dois anos, meus planos é ir para o méxico... então, imagino como vou me emocionar quando visitar a casa de Frida em Coyoacán!